Edmilson Volpi*
Sua bandeira era idêntica à ucraniana dos dias de hoje, com uma faixa azul acima de uma faixa amarela, o idioma era o ucraniano, mas esse pequeno país tornou-se independente 52 anos antes da Ucrânia, tornar-se uma nação, em 1991. O problema é que, entre a declaração de independência, em 15 de março de 1939, e sua invasão por forças húngaras, a Carpatho-Ucrânia durou apenas um dia, conforme reportagem do site Big Think.
O cenário da criação desse pequeno país incrustado, na época, entre as fronteiras da Polônia, Checoslováquia (hoje Eslováquia), Hungria e Romênia, e tendo a leste a cordilheira dos Cárpatos como limite, era a grande agitação política pré-II Guerra Mundial. Em 30 de setembro de 1938, pelo Acordo de Munique, os checos haviam cedido um pedaço de sua parte oeste (Sudetos) à Alemanha de Hitler, como condição para a paz na Europa.
Como consequência, o país fundou a Segunda República da Checoslováquia, dando autonomia à Eslováquia (parte central do país) e à Rus subcarpática (parte leste). Esta última, porém, em novembro passou a autodenominar-se Carpatho-Ucrânia, embora oficialmente mantivesse o nome Rus subcarpática.
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Paralelamente, a Hungria também reivindicava parte do território da Checolslováquia e os acordos de Munique e a Arbitragem de Viena, em novembro de 38, não foram capazes de resolver a questão, o que fez os húngaros anexaram a parte sul da Eslováquia. A tensão aumentou e novos conflitos aconteceram, dessa vez na fronteira com a Rus subcarpática.
Em meio a todo esse ambiente de grande ebulição política e militar, tanto Eslováquia como Carpatho-Ucrânia começaram a falar em independência. Consultado pelos eslovacos, Hitler disse que não se opunha, desde que o novo país passasse a fazer parte do III Reich. Do contrário, lavaria as mãos para uma iminente invasão húngara. Em 14 de março, a Eslováquia declarou independência para virar um Estado-fantoche dos nazistas, enquanto.
Ao ver isso e tentando se manter longe da Alemanha, a república da Carpatho-Ucrânia declarou sua independência no dia 15 de março de 1939, enquanto, do lado oeste, Hitler fazia sua entrada triunfal em Praga, anexando a Boêmia-Moravia. Junto com outros ministros, o presidente, monsenhor da Igreja Ortodoxa Avgustyn Voloshyn, estabeleceram bandeira, idioma, brasão, e um hino nacional: “A Ucrânia não pereceu”.
Mas o país tornou-se um caos imediatamente, com forças pró-checas, pró-eslovacas, pró-húngaras e os nacionalistas locais às escaramuças nas ruas. Com a garantia de Hitler, a Hungria avançou e, no dia seguinte, anexou formalmente o território do jovem país. A 17 de março, os húngaros chegavam à fronteira com a Polônia, sufocando os últimos focos de resistência.
Com o fim da guerra e a tomada da Europa Central pela União Soviética, os russos redesenharam toda a área, e o que um dia (literalmente) foi a Carpatho-Ucrânia, tornou-se, em 1946, o Oblast (província) de Transcarpátia, a porção mais ocidental da recém-criada República Socialista-Soviética da Ucrânia e onde viviam, até a invasão russa, no fim de fevereiro, cerca de 1,2 milhão de habitantes.
Leia a reportagem do Big Think em inglês e a tradução no Curiosidades Cartográficas.
*Edmilson M. Volpi é engenheiro Cartógrafo e editor da página Curiosidades Cartográficas no Facebook e Instagram