A imagem desta semana foi tirada pela sonda Solar Orbiter, uma colaboração entre a Agência Espacial Europeia (ESA) e a NASA, há cerca de um mês, e divulgada recentemente, mas só esta semana chamou a atenção da imprensa. Trata-se de uma foto em altíssima resolução do nosso Sol, enquanto a sonda, lançada em fevereiro unicamente para observação solar, estava a “apenas” 75 milhões de km do astro – metade da distância Terra-Sol – o que, segundo a ESA, só foi possível graças ao ápice do periélio, o ponto em que a órbita elíptica da espaçonave fica mais próxima da estrela.
A imagem, que pode ser baixada aqui, é na verdade um mosaico de 25 fotos individuais tiradas de diferentes ângulos durante quatro horas, no dia 7 de março, pelo telescópio de alta resolução do equipamento Extreme Ultraviolet Imager (EUI), usando comprimento de onda de 17 nanômetros, na região ultravioleta extrema do espectro eletromagnético. Ela tem mais de 83 milhões de pixels (10 vezes melhor do que uma tela de TV 4K) em uma configuração de 9148 x 9112 pixels, a primeira imagem do disco solar completo e da coroa em 50 anos e a de maior resolução alguma vez já obtida.
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A inédita representação revela a atmosfera superior do Astro-Rei, conhecida como coroa, onde a temperatura é de cerca de um milhão de graus Celsius. Os registros permitem compreender as diferentes temperaturas na distribuição de camadas atmosféricas solares e observar fenômenos incandescentes que podem explicar rajadas de calor que viajam pelo espaço.
Além do EUI, a Solar Orbiter também leva o instrumento SPICE, que registra dados durante a viagem e os incorporou ao mosaico. Projetado para traçar as camadas na atmosfera solar, da coroa até a cromosfera, perto da superfície, o SPICE identifica os comprimentos de onda da luz ultravioleta extrema provenientes de diferentes átomos e os transforma em cores: roxo corresponde ao gás hidrogênio, a uma temperatura de 10.000°C; o azul, ao carbono a 32.000°C; o verde ao oxigênio, a 320.000°C, e o amarelo, ao neon, a 630.000°C (abaixo).
Segundo a ESA, isso permitirá que os físicos rastreiem as extraordinariamente poderosas erupções que ocorrem na coroa vindas das camadas atmosféricas inferiores. Nas posições de 2 horas (perto da imagem em escala da Terra) e 8 horas, nas bordas do disco, é possível ver filamentos escuros projetando-se para longe da superfície. Essas ‘proeminências’ são propensas a entrar em erupção, lançando enormes quantidades de gás coronal no espaço e criando tempestades de ‘clima espacial’.
Solar Orbiter vai investigar fenômeno intrigante
A sonda também possibilitará estudar um dos fenômenos mais intrigantes da nossa estrela: como a temperatura sobe pelas camadas atmosféricas. Normalmente, a temperatura cai à medida que nos afastamos de um objeto quente. Mas, no nosso astro, a coroa atinge um milhão de graus Celsius, enquanto na superfície, abaixo, é de cerca de 5000°C, apenas. Investigar esse mistério é um dos principais objetivos científicos do projeto.
O dia 7 de março foi escolhido para obter a foto porque nesse dia, precisamente, a sonda cruzou a linha Sol-Terra, permitindo que as imagens pudessem ser comparadas com instrumentos ligados à Terra e calibradas de forma cruzada. Isso tornará mais fácil, no futuro, comparar os resultados de diferentes instrumentos e observatórios.
Atualmente, a sonda encontra-se dentro da órbita de Mercúrio, o planeta mais interior do nosso sistema, captando imagens e gravando dados sobre o vento solar de partículas que emanam do Astro-Rei. Nos próximos anos, a nave voará repetidamente muito perto do Sol, aumentando gradualmente sua orientação para visualizar as regiões polares, que ainda não foram observadas.
Fonte: ESA