Em março deste ano, o Paraguai lançou seu primeiro satélite, o Guaranisat-1, com o objetivo de levar ao país os benefícios da indústria aeroespacial, como redução de risco de desastres, agricultura, gestão de terras, recursos naturais e clima. O Portal Geocracia falou com o diretor Geral de Execução e Desenvolvimento Aeroespacial da Agência Espacial do Paraguai (AEP) e coordenador Geral do Projeto Paraguai ao Espaço e do Projeto GEOLab, Alejandro Román. Especialista em sistemas de informação geográfica e sensoriamento remoto com mais de 25 anos de experiência nos setores público e privado, Román traça planos ambiciosos para o país vizinho: “Do ponto de vista estratégico, a AEP visa à construção de capacidades no campo espacial, não apenas na engenharia espacial básica, mas também em aplicações de observação da Terra”.
Em março, a Agência Espacial Paraguaia (AEP) implantou o Guaranisat-1, seu primeiro satélite, para a Estação Espacial Internacional (ISS). Como o Paraguai se beneficia dessa conquista?
O lançamento do GuaraniSat-1 é o primeiro passo da República do Paraguai no espaço, representa um marco histórico no desenvolvimento científico e tecnológico em nosso país. O evento foi seguido por mais de 2,9 milhões de pessoas em um país de 7 milhões de habitantes. Do ponto de vista estratégico, o ASP visa à construção de capacidades no campo espacial, não apenas na engenharia espacial básica, mas também em aplicações de observação da Terra. Com o talento humano formado em carreiras de graduação e pós-graduação no exterior, queremos criar programas acadêmicos locais voltados para atender às necessidades do país.
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Pode-se dizer que, utilizando o conhecimento espacial para promover a agricultura, o Paraguai alcançará vantagens significativas, como a valorização de suas commodities?
Qualquer tecnologia voltada para melhorar quantitativa e qualitativamente a produtividade em um país agrícola como o Paraguai é uma boa ideia, pois vai melhorar o rendimento, reduzir o impacto no meio ambiente e otimizar o uso dos recursos. Nesse sentido, as ciências e tecnologias espaciais e, especialmente, os dados de satélite têm um papel fundamental. A maior vantagem será não perder competitividade nesses setores que representam uma grande porcentagem do produto interno bruto do nosso país.
Como está o desenvolvimento do parque aeroespacial no Paraguai? Existem incentivos fiscais para a criação de empresas estrangeiras no país?
O desenvolvimento do parque aeroespacial no Paraguai ainda é incipiente, estamos começando. O país tem incentivos muito interessantes para qualquer tipo de empresa, temos leis que favorecem a instalação de empresas estrangeiras e uma carga tributária leve, além de um clima de negócios saudável acompanhado de variáveis macroeconômicas estáveis e sólidas. Tudo isso é um atrativo para as empresas e nosso interesse é que, no futuro, possam se instalar no país empresas e clusters do setor aeroespacial. Estamos acompanhando de perto o progresso de nossos parceiros estratégicos e aliados na região, e a ideia é gerar, no futuro, uma complementaridade nos serviços e bens oferecidos. Não precisamos concorrer, acredito que o espaço tem um lugar para todos e todos nós podemos nos beneficiar deste setor que está crescendo e movimentando trilhões de dólares por ano.
O Paraguai é reconhecido internacionalmente por ter trazido educação aeroespacial para escolas de ensino fundamental. Embora seja um processo gradual, como está progredindo, considerando que há obras em guarani e braille?
Nossa base e fundação é a Educação, e devemos começar o mais rápido possível. Estamos desenvolvendo diversas iniciativas para promover, incentivar e fortalecer as disciplinas STEM/STEAM em nosso país, com uma abordagem inclusiva a partir de escolas, faculdades e universidades. Precisamos de mais engenheiros, cientistas, técnicos, cientistas da computação, matemáticos para poder crescer e expandir neste setor, mas é um processo gradual e exige comprometimento, decisão política, perseverança e recursos. Estamos fazendo isso passo a passo.
O escritor paraguaio Augusto Roa Bastos descreveu seu país como uma “ilha cercada por terra” no coração do continente. Como podemos usar agências espaciais e geoinformação como base para melhorar a integração regional?
O Paraguai é um país mediterrâneo, mas tem várias vantagens competitivas. Estamos a duas horas das principais capitais da região, em um lugar estratégico geograficamente falando. Estamos criando alianças e, graças à cooperação internacional, acelerando o desenvolvimento espacial em nosso país. As Agências Espaciais da região desempenham um papel fundamental para uma melhor integração regional. Há um consenso na intenção de realizar uma Agência Espacial Latino-Americana e caribenha e, em setembro, participamos da primeira etapa. O uso de dados de satélite e sistemas de informação geográfica permitirá que melhores decisões sejam tomadas, oferecerá maiores oportunidades para as novas gerações e significará uma melhor qualidade de vida para nossos concidadãos.