Vitor Zanetti*
Atualmente, diversos municípios brasileiros estão em estado de emergência causada por fenômenos naturais. Estiagem, secas e chuvas intensas são as causas principais, e sua distribuição geográfica – estiagem no Norte, seca no Nordeste e chuvas intensas no Sul – corroboram o que a nota técnica Nº 366/2023/SEI-CEMADEN emitida em 11 de setembro de 2023 já desenhava, um evento de El Niño no verão de 2023-2024 que traria um cenário alarmante de estiagem (e, por consequência, incêndios) na região amazônica, enquanto o Sul sofreria com chuvas intensas e próximas à média histórica.
De acordo com a pesquisa “Weather, Climate and Catastrophe Insight”, elaborada pela gestora de riscos corporativos Aon, as enchentes em 2022 causaram prejuízos para o Brasil de cerca de US$ 1,3 bilhão de dólares. Já a Confederação Nacional de Municípios (CNM) elaborou um estudo sobre os prejuízos causados por desastres naturais nos últimos dez anos no Brasil e detectou que, entre janeiro de 2013 e fevereiro de 2023, os desastres causaram R$ 401,3 bilhões de prejuízos em todo o país. Os números acima somados à informação de que o Brasil é atualmente o sexto país do mundo que mais sofre com esse tipo de fenômeno, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), um alerta acende: como seria possível reduzir riscos, proteger a população e fazer uma gestão mais eficiente?
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Hoje, cerca de 8 milhões de pessoas vivem em áreas de risco no Brasil e já existem, no mercado, tecnologias que são capazes não só de antecipar ações em áreas com maior propensão às enchentes, como também, auxiliar as equipes de campo em casos de emergência, auxiliando as prefeituras, governos estaduais e governo federal a tomar medidas rápidas e assertivas para prevenir incidentes mais graves. Com informações de inteligência artificial geográfica, localização territorial das áreas afetadas e imagens de satélites, é possível agir com muito mais rapidez.
A somatória da tecnologia GIS com os dados de APIs (interface de programação de aplicativos) meteorológicas apresenta-se, neste contexto, como uma solução tecnológica eficaz para monitorar e prever impactos decorrentes de chuvas intensas (como a inundação de certas áreas) e da estiagem (risco de incêndios) com grande eficiência, propiciando aos tomadores de decisão ferramentas que permitem priorizar e tomar medidas que previnem transtornos e até a perda de vidas humanas.
Sim, é possível afirmar que essas soluções tecnológicas poupam vidas, não só por detectarem com antecedência as áreas que podem ser suscetíveis a enchentes, incêndios e deslizamentos mas também por oferecerem – em tempo real – informações sobre desastres, desabamentos de residências, volume de pessoas em cada comunidade, quais estradas estão bloqueadas, quais infraestruturas – de eletricidade, telefonia, saneamento e saúde – foram afetadas, onde estão as equipes de salvamento, além de auxiliar na coordenação dos trabalhos, com mapas que mostram a localização de abrigos, postos de comando, hospitais e outros recursos importantes.
Outro ponto que não é muito comentado é sobre como a tecnologia pode ajudar a garantir a evacuação de áreas de risco de forma mais eficiente. Hoje, todos os moradores de uma região são avisados, pelo celular, sobre o risco de tempestades, mas sem uma comunicação direcionada, que atinja só o bairro que de verdade corre risco. Na verdade, muitas pessoas não têm a dimensão da gravidade que pode ocorrer quando soa o alerta. Ou seja, é preciso, também, reeducar a população neste sentido. Precisamos trazer de volta o senso de urgência aos alertas meteorológicos que todos recebem, para que as pessoas entendam que esse envio significa que correm perigo e precisam evacuar. Mas, para isso, os envios precisam ser mais bem direcionados – e, quem sabe, oferecer também a informação de qual a melhor via para evacuação.
É um fato que o Brasil tem capacidade, e disponibilidade, cientifica e tecnológica para combater os cenários alarmantes de impactos que se desenham com a chegada de um verão de extremos, falta-nos colocar em prática políticas e ferramentas que permitam tomada de decisão mais acertada e direcionem ações de decisores públicos e privados para ações que efetivamente previnam impactos negativos.
São inúmeras as possibilidades de aplicação de tecnologia. Por isso, diante de milhões de pessoas que moram em áreas de extremo risco e com um evento de El Niño bastante intenso desenhado para este ano, investir em inovação, dados e mão de obra qualificada é imprescindível para os governos que desejam, de alguma forma, melhorar esse cenário e oferecer mais segurança para a população.
* Líder de Inovação em Ciência de dados na Solução EGIA da Imagem Geosistemas