Cidades convergentes: por uma real interoperabilidade urbana

As cidades convergentes representam uma nova visão de planejamento urbano para criar espaços mais eficientes, inclusivos e sustentáveis. Elas têm uma importante repercussão tecnológica, ao buscar a integração de diferentes aspectos da vida urbana, como transporte, moradia, trabalho, lazer e serviços em plataformas centralizadas e interoperáveis. 

Com os atuais desafios demográficos, ambientais e urbanos, é um pressuposto das cidades convergentes sua regularização territorial. Passamos séculos baseados na premissa de que a imprecisão territorial era inclusiva, pois o planejamento não acompanhava o desenvolvimento social e as demandas da população. Com as tecnologias atuais, passa a ser o contrário: a precisão territorial torna-se, cada vez mais, o vetor do desenvolvimento urbano e da inclusão social. 

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Conceitos como aqueles usados frequentemente para denominar uma cidade como inteligente partem desta premissa tecnológica de precisão territorial. E o ponto de convergência urbana costuma ser caracterizado pelos geoportais, a arena onde as cidades inteligentes são regidas, pois coletam e analisam dados geolocalizados em tempo real para gerenciar melhor seus recursos e tomar decisões mais informadas.

Com eles, é possível obter dados sobre terrenos, edifícios, infraestrutura, transporte e outras informações relevantes para o planejamento urbano. Há vários exemplos no Brasil, como o GeoSampa (São Paulo), o GeoFloripa (Florianópolis) e o Filipeia (João Pessoa).

Esta convergência, para além de ser local, pode ser nacional. A Política do Mapa Único (One Map Policy) é uma iniciativa implementada pelo governo da Indonésia para resolver a questão dos conflitos de terras no país. Foi criada uma agência reguladora, chamada Agência Nacional de Informação Geoespacial (National Geospatial Information Agency – BIG), sendo responsável por gerenciar e coordenar todas as informações geoespaciais do país, pressuposto da convergência nacional.

Lembramos que a Indonésia é um país vasto e diverso, composto por cerca de 17.500 ilhas, o que torna o gerenciamento de terras e recursos naturais uma tarefa desafiadora, tendo uma população tropical maior que a brasileira.

O principal problema que esta política visa abordar é a falta de clareza sobre as fronteiras das terras na Indonésia. Muitas áreas do país são reivindicadas por várias partes, como governos locais, empresas e comunidades locais. Isso pode levar a conflitos entre esses grupos, bem como a atividades ilegais, como o desmatamento e a mineração ilegal.

Ao fornecer um único mapa oficial, a One Map Policy visa resolver esses conflitos, fornecendo uma referência clara para todas as partes envolvidas. Desafios urbanos recorrentes no Brasil tão diversos como a gestão da geração distribuída, de zonas de riscos, qualidade do ar, da água, disponibilidade de leitos em hospitais, de vagas escolares, ganham outro significado quando reunidos em um geoportal, aprimorando a transparência e melhorando a participação cidadã.

Nesse mundo algorítmico, independentemente de ser a escala nacional ou local, a convergência entre diferentes aspectos da vida urbana e a interoperabilidade entre diferentes sistemas e dispositivos são fundamentais para a criação de cidades mais inteligentes, conectadas e sustentáveis.

Por exemplo, a interoperabilidade entre sistemas de transporte, como ônibus, metrôs e bicicletas compartilhadas, pode permitir que as pessoas planejem suas rotas de forma mais eficiente e com mais informações em tempo real, tais como clima e condições das vias. 

Ao adotar essas abordagens de forma integrada, diferentes dispositivos e sistemas, como sensores, sistemas de transporte, sistemas de iluminação pública e outros, serão capazes de interagir e trocar informações para que a cidade possa ser gerenciada de forma mais eficiente.

Cabe aos gestores públicos e à sociedade civil perceberem o descortinamento de possibilidades que a convergência e a interoperabilidade podem oferecer às nossas cidades, utilizando os melhores instrumentos de políticas públicas para desenvolver geoportais e conscientizar a população de seus benefícios.

Texto de autoria de Luiz Ugeda, Pós-doutor em Direito (UFMG) e doutor em Geografia (UnB). Investigador da Escola de Direito da Universidade do Minho. CEO da Geocracia.

De Laboratório Arq.Futuro

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