Com o Censo 2022, que começa em agosto, o IBGE vai identificar as coordenadas de 75 milhões de domicílios urbanos, concluindo a coleta dessa informação para 100% dos endereços do país, já que as coordenadas das propriedades rurais foram registradas nos Censos Agropecuários de 2007 e 2017 e no Censo Demográfico de 2010. De acordo com o Instituto, as coordenadas serão associadas apenas ao endereço, preservando o sigilo estatístico.
“Em hipótese nenhuma, o IBGE divulga os dados individualizados de cada domicílio associado ao ponto de coordenada. A coordenada serve para gerar outras estatísticas agregadas, mas nunca para divulgar qualquer informação associada a cada uma delas – nome dos moradores, renda, quantas pessoas moram no domicílio etc”, explica o diretor de Geociências do IBGE, Cláudio Stenner, acrescentando que o ganho para a sociedade é ter um melhor conhecimento do território.
“Vamos definir, de acordo com critérios que respeitam o sigilo estatístico, outros recortes territoriais urbanos e rurais para divulgar dados que permitem identificar, por exemplo, a população em idade escolar que está distante das escolas, mas sem individualizar o informante”, detalha o diretor de Geociências. Como exemplo, ele cita que será viável, por exemplo, separar melhor as informações de uma bacia hidrográfica ou de áreas de risco de deslizamento e inundações, como no projeto que está sendo conduzido com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
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O coordenador de Geodésia e Cartografia do IBGE, Marcelo Maranhão, diz que “esse tipo de granularidade do georreferenciamento é o sonho dos registros administrativos. Nenhuma outra instituição tem os dados georreferenciados que serão coletados. Independentemente da tecnologia, o instituto já faz uma revolução percorrendo todo o território”, diz. Ele conta que, no Censo Agro de 2017, foi possível fazer um mapa do trajeto de todos os recenseadores: “Esse não era o objetivo inicial, e sim, um processamento posterior que gerou um mapa nacional de estradas vicinais que não existia”.
Maranhão acrescenta que, além dos domicílios, outras instalações de interesse poderão ter suas coordenadas coletadas, como escolas e postos de saúde. “Essa é a oportunidade de, em uma pesquisa desse tamanho, ter acesso a toda a informação; e a coordenada é um dado muito rico, vai aprimorar muito a informação que o IBGE presta para a sociedade: os mapas municipais para fins estatísticos, as bases cartográficas de referência e o mapeamento ambiental”, salienta.
Uso em outras pesquisas
Em um primeiro momento, essa captação servirá para monitorar o trabalho dos recenseadores e a gestão da coleta do Censo 2022 em tempo real. Mais tarde, no entanto, esses dados beneficiarão diversas pesquisas do IBGE, como a PNAD Contínua, e servirá para atualizar os setores censitários. As prefeituras menores também poderão aproveitar os cadastros do IBGE para melhorar suas informações. As coordenadas também são importantes para melhorar a qualidade da coleta, com uma visão mais ampla da cobertura da operação censitária no território. Assim é possível, se necessário, tomar ações para garantir a cobertura total.
“O IBGE vai divulgar os cadastros de endereços e algumas características, como a sua espécie (se prédio, residência, comércio), que são informações públicas disponíveis em outras bases de dados, como o Google Street View. O que torna a nossa informação valiosa é que ela será abrangente, padronizada e pública. Até hoje, todos os dados do Censo tiveram como base o setor censitário. A partir da captação das coordenadas, respeitado o sigilo estatístico, estaremos livres para estabelecer áreas para entender e divulgar. Por exemplo, uma área como a Avenida Atlântica (RJ) contempla vários setores. Com as coordenadas, poderemos ter um retrato da região”, revela o coordenador do Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos (CNEFE), Wolney Cogoy de Menezes.
Captando coordenadas dos trajetos dos recenseadores
Além dos domicílios, serão captadas as coordenadas dos trajetos percorridos pelos recenseadores, o que também servirá para monitorar a operação censitária. Se um recenseador não percorreu uma parte de sua área de trabalho (o setor censitário), as equipes de supervisão têm condições de saber em tempo real, avaliar e tomar medidas para que a área seja recenseada.
Depois da coleta do Censo 2022, será possível ainda elaborar um mapeamento dos caminhos do território, especialmente nas áreas rurais, ajudando o mapeamento do país. “O grande ganho da captação das coordenadas é ter, pela primeira vez, a localização mais exata de todos os domicílios do país, o que vai permitir criar dados estatísticos com recortes geográficos com mais liberdade, para aplicações de políticas públicas de governos e decisão de investimentos. No Brasil, só o IBGE terá esse dado”, diz Stenner.
A captação das coordenadas tem utilidade tanto para o recenseador que está na rua quanto para as equipes que fazem o acompanhamento do trabalho de campo. Para o recenseador, a vantagem é poder ver, a qualquer momento, sua localização precisa, o que não é tão problemático nas áreas urbanas. Nas zonas rurais, no entanto, saber onde está é algo importante não apenas para o trabalho, mas para a própria segurança do recenseador, que percorre áreas muito remotas.
Segundo Wolney de Menezes, a maneira de percorrer um setor censitário não pode ser feita de forma aleatória, pois há o risco de o recenseador pode deixar de entrevistar alguém. Por isso, é importante a captação dos trajetos também. “O tracking é fundamentalmente uma informação de acompanhamento para os gestores saberem que o recenseador está fazendo o trabalho de forma ordenada. Eles são orientados a visitar um setor seguindo uma série de regras, como as formas de se percorrer uma quadra. Além disso, outros profissionais, os supervisores, também vão a campo para fazer seu trabalho. Na área rural, o tracking acaba sendo um excelente indicador de rotas de onde é possível andar”, diz Menezes.
Aplicativo avisa captação de coordenada fora do setor
A captação da coordenada é feita em três momentos: na confirmação do endereço, na chegada para a primeira visita ao domicílio – e no retorno, quando ele não encontra o morador na primeira vez – e no momento da entrevista. O recenseador pode voltar ao endereço até três vezes. A cada uma delas, é captada a coordenada e comparada com a coordenada inicial de confirmação do endereço, para certificar de que ele teve todo um esforço na tentativa de obter a entrevista.
“Na área rural, normalmente, é mais difícil identificar os limites entre os setores censitários. Há o risco de o recenseador realizar entrevistas em domicílios que estão fora de sua área de trabalho, o que chamamos de invasão. A captação da coordenada também serve para isso. Toda vez que o recenseador faz uma entrevista de um domicílio fora do limite de seu setor, recebe uma advertência do aplicativo, e o supervisor é avisado, resolvendo o problema a tempo”, explica Menezes.
Em cada Dispositivo Móvel de Coleta (DMC) usado pelos recenseadores, um chip capta o sinal do GPS, calcula e devolve a informação da coordenada. Essa informação é incorporada no aplicativo e passa por vários processos, como a comparação com as coordenadas dos limites do setor. Após registrada no DMC, a coordenada é enviada para o sistema central do Censo 2022, no Rio de Janeiro, junto com o questionário no momento da transmissão.
Pensando em garantir a qualidade dos dados coletados, o IBGE organizou, no fim de abril, o seminário online A importância das Coordenadas Geográficas Coletadas no Censo para mais de 700 participantes. Durante o evento, técnicos orientaram as equipes de coleta sobre as formas corretas de captação das coordenadas e tiraram dúvidas.
A iniciativa de registrar as coordenadas dos domicílios no Censo 2022 atende a uma recomendação da Divisão de Estatística das Nações Unidas, que tem documentos preconizando a forma como deve ser feita a integração das informações geográficas e estatísticas. Uma das recomendações é o georreferenciamento no nível mais detalhado possível, incluindo a coordenada dos endereços, justamente para permitir os diversos usos estatísticos.
Fonte: Agência IBGE