Hoje o Brasil celebra o centenário de Azis Ab’Sáber, um dos mais importantes geógrafos e ambientalistas do país. Nascido em 24 de outubro de 1924, em São Luís do Paraitinga, Ab’Saber construiu uma carreira marcada por contribuições significativas à geografia, ecologia e defesa do patrimônio natural. Filho de um imigrante libanês que fugiu dos conflitos religiosos e econômicos de seu país em 1913, ele foi um dos maiores estudiosos da relação entre o ser humano e o meio ambiente no Brasil.
Formado pela Universidade de São Paulo (USP) em Geografia e História, Ab’Sáber dedicou mais de 30 anos ao ensino e à pesquisa acadêmica, sendo posteriormente nomeado professor-emérito da instituição. Sua trajetória também incluiu períodos de docência na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Ele publicou mais de 486 trabalhos acadêmicos, incluindo artigos, livros e capítulos, e foi autor da obra “A Obra de Aziz Nacib Ab’Sáber”, lançada em 2010.
Ab’Sáber foi fundamental em várias ações de preservação ambiental no Brasil, sendo responsável pelo tombamento da Serra do Mar como área protegida em 1986, durante sua presidência no Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) do Estado de São Paulo. Suas pesquisas também contribuíram para o entendimento dos biomas brasileiros, como os estudos sobre os domínios morfoclimáticos.
Em 2011, ele foi eleito Intelectual do Ano pela União Brasileira de Escritores, e ao longo de sua vida, recebeu importantes prêmios, como o Jabuti de Melhor Livro na categoria Ciências Humanas em 2005 e a Grã-Cruz em Ciências da Terra pela Ordem Nacional do Mérito Científico. Ab’Sáber também ocupou a presidência da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e foi presidente de honra do Instituto de Cultura Árabe.
Aziz Ab’Sáber era conhecido por seu ceticismo em relação ao aquecimento global. Embora reconhecesse o fenômeno, ele questionava a extensão da contribuição humana e apontava para a necessidade de mais estudos antes de conclusões definitivas. Em entrevistas, destacou a importância de se considerar fenômenos naturais, como o El Niño, na análise de eventos climáticos, criticando previsões que ignoravam essas variações.
Apesar de ter atuado como consultor ambiental do Partido dos Trabalhadores (PT), Ab’Sáber tornou-se crítico da política ambiental do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), especialmente em relação ao projeto de transposição do Rio São Francisco, pois acreditava que o sertão, o semi-árido mais povoado do mundo, deveria ser esvaziado, não defendendo medidas que assentassem pessoas na região.
Em 2024, uma série especial de entrevistas com Ab’Sáber, realizada pelo Instituto de Cultura Árabe (ICArabe), está sendo republicada para marcar o centenário de seu nascimento. Nos depoimentos, ele revisita sua trajetória pessoal e profissional, destacando suas origens familiares, suas viagens e o profundo interesse pelo conhecimento geográfico, além de suas reflexões sobre a Primavera Árabe.
Neste centenário de Aziz Ab’Sáber, que possamos refletir sobre seu vasto legado com cuidado e criticidade para as questões ambientais e geográficas. Revisitar sua obra e pensamento certamente trazem reflexões sobre as relações entre o homem e a natureza, especialmente em tempos de mudanças climáticas que afetam tanto o Brasil quanto o cenário internacional.