Pesquisa realizada pela Embrapa no âmbito do projeto Rural Sustentável – Cerrado mapeou o risco de desmatamento e aquele que foi evitado nesse bioma em 101 municípios de quatro estados (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais). Os dados servem de ferramenta para auxiliar os governos federal, estaduais e municipais a adotar medidas protetivas e preventivas.
Para levantar o risco de desmatamento em cada região o trabalho utilizou a metodologia ACEU, que leva em conta A–acessibility (acessibilidade), C–cultivability (aptidão da terra para uso agropecuário), E–extractability (existência de recursos naturais) e U–Protection status (se há algum regime de proteção).
A pontuação final no método ACEU classifica a área como de risco muito baixo, baixo, médio, alto e muito alto de desmatamento. Para cada um desses riscos, há um percentual de perda de vegetação esperada em um período de 20 anos. É com base nessas informações que se calcula o desmatamento esperado para cada município avaliado.
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Em áreas com risco muito baixo, a expectativa é de perda de 10% da vegetação em 20 anos, enquanto o percentual sobe para 30% nas áreas de risco baixo, 50% com risco médio e 70% e 90%, respectivamente, para os riscos alto e muito alto.
De acordo com a pesquisa, dos 8,4 milhões de hectares de Cerrado avaliados em 25 municípios de Mato Grosso, 17% possuem risco muito alto de desmatamento, 19% risco alto, 19% risco médio, 15% baixo e 30% muito baixo.
Em Mato Grosso do Sul, a área avaliada é de 3,4 milhões de ha, nos quais os riscos de desmatamento encontrados foram 14% muito alto, 16% alto, 40% médio, 14% baixo e 16% muito baixo.
Em Minas Gerais, o projeto avaliou 2,6 milhões de ha de Cerrado, sendo que 8% apresentam risco muito alto de desmatamento, 25% alto, 27% médio, 20% baixo e 20% muito baixo.
Já em Goiás, foram mapeados 2,4 milhões de ha, com 5% apresentando risco muito alto de desmatamento, 18% risco alto, 27% risco médio, 20% baixo e 20% muito baixo.
Segundo a pesquisadora Laurimar Vendrusculo, chefe-geral da Embrapa Agrossilvipastoril (MT) e coordenadora do trabalho, ao indicar onde o risco é maior, os dados permitem ao poder público tomar medidas para evitar que o desmatamento ocorra: “As informações espacializadas dos níveis de risco de desmatamento evitado permitem subsidiar planos operacionais que identifiquem áreas com maior pressão para o desmatamento. Com isso, políticas que privilegiam geograficamente incentivos à adoção de tecnologias conservacionistas podem ser melhor empregadas, tanto financeira como tecnicamente. Por exemplo, áreas mais suscetíveis poderiam ter mais subsídios econômicos para implantação de florestas plantadas ou restauração florestal”.
Desmatamento esperado e evitado
O desmatamento esperado para cada um dos 101 municípios avaliados foi confrontado com o desmatamento real mensurado pelo MapBiomas Brasil no ano de 2019, possibilitando assim chegar a uma área de desmatamento evitado ou superado por município ou estado.
Os resultados mostraram que, em 2019, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul tiveram menor desmatamento no Cerrado do que o esperado. Foram 65,9 mil hectares a menos em MT e 14,8 mil a menos em MS. Já Goiás e Minas Gerais desmataram, respectivamente, 4 mil hectares e 39,7 mil hectares a mais de Cerrado do que o esperado.
Os dados da pesquisa permitem verificar o retrato de cada município. Em Mato Grosso, por exemplo, Lucas do Rio Verde conta com 117 mil hectares de cobertura de Cerrado, dos quais 76,5% estão em risco alto ou muito alto de desmatamento. Porém, em 2019, o desmatamento estimado representou 55% da perda esperada, ou seja, houve um desmatamento evitado de 1.911 hectares.
Laurimar Vendrusculo adianta que os mapas georreferenciados com risco de desmatamento serão disponibilizados em breve na plataforma Geoinfo, da Embrapa, possibilitando serem usados por secretarias municipais e estaduais de Agricultura e Meio Ambiente na adoção de medidas locais e alternativas sustentáveis de produção agrícola, como técnicas conservacionistas capazes de aumentar a vegetação e promover melhorias do solo e dos recursos hídricos.
“Outra etapa será produzir material técnico sobre os resultados dos experimentos de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), de forma a orientar produtores que desejarem adotar esse tipo de sistema. O objetivo é disponibilizar uma plataforma web que congregue os resultados espaciais desse projeto associados a camadas de informação do solo, clima e técnicas de manejo, na qual o produtor possa selecionar cenários sustentáveis de produção para a sua propriedade”, afirma a chefe-geral.
Fonte: Embrapa