Cidades precisam de equipes preparadas para análise de dados

análise de dados
Douglas Tokuno (arquivo pessoal)

O diretor de Parcerias e Carpool do Waze para a América Latina Douglas Tokuno enaltece o trabalho que foi feito no Brasil em termos de projetos em colaboração com prefeituras, um trabalho que começou mundialmente pelo Rio de Janeiro, em 2014, e serviu de modelo para ser replicado em outras 1.800 cidades por todo o mundo. Mas, ele alerta: é preciso que as cidades tenham equipes preparadas em análise de dados para “extrair informações que ajudem na tomada de decisão futura”.

Em entrevista ao Geocracia, Tokuno conta que, hoje, esse trabalho vai muito além do monitoramento do trânsito, com os dados do Waze sendo empregados no planejamento urbano, na análise de comportamento e em estratégias de saúde pública: “Essas análises são essenciais para o funcionamento das cidades e a garantia da qualidade de vida de seus moradores”, afirma.

Acompanhe, a seguir, a entrevista na íntegra.

Há alguns anos, apenas São Paulo e Rio tinham parcerias com o Waze para gestão do trânsito. Como está isso hoje? As cidades brasileiras estão acordando para a utilização de plataformas colaborativas de dados georreferenciados em tempo real?

Na realidade, são diversas cidades que são parceiras do Waze for Cities no Brasil. O programa estreou em outubro de 2014, no Rio de Janeiro, e cresceu para mais de 1.800 parceiros em todo o mundo. Vale ressaltar que esse é um projeto de parceria que foi desenvolvido no Brasil e hoje aplicado em outras partes do mundo. 

Algumas cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Joinville, Florianópolis, Vitória, além de órgãos como o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), e muitos outros, têm explorado mais a parceria. Isso porque o Waze for Cities é uma iniciativa do Waze de compartilhamento de dados de trânsito com órgãos públicos, com o objetivo de encontrar soluções conjuntas para enfrentar os desafios de mobilidade urbana. Porém, é preciso que as cidades possuam times preparados para analisar os dados e extrair informações que ajudem na tomada de decisão futura. 

No Brasil, a cidade de São Paulo é uma das que mais utiliza o Waze. Já Joinville apresenta um dos grandes casos de sucesso da aplicação do programa: a intervenção na rua Ottokar Doeffer. Com os dados coletados, a Secretaria de Planejamento Urbano e Desenvolvimento Sustentável de Joinville pôde realizar mudanças sem muito investimento que fizeram grande diferença para o tráfego local e podem ser conferidas no vídeo abaixo.

Rua Ottokar Doeffer, em Joinville.

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Que benefícios podem ser extraídos dessa colaboração entre ferramentas colaborativas de monitoramento de trânsito e o poder público?

Hoje, os parceiros vão além de órgãos de trânsito, e são diversos os perfis que o programa possibilita. Centros de emergência nos Estados Unidos utilizam os alertas para receber informações sobre acidentes antes de chamadas telefônicas. A Secretaria de Meio Ambiente de Israel utiliza os dados para entender qual o melhor local para passarelas e parques. Empresas de comunicação se baseiam nos dados para manter a população informada sobre o trânsito nas cidades.

Os dados do Waze ajudam no desenvolvimento de políticas públicas e tomadas de decisão. Algumas iniciativas que podem ser realizadas a partir da análise de dados são: gerenciamento de tráfego, sistemas inteligentes de semáforos, avaliação do impacto de investimentos de infraestrutura; entendimento dos padrões associados a eventos ou fenômenos e intervenções para prevenção de acidentes — como buracos, por exemplo. Essas análises são essenciais para o funcionamento das cidades e a garantia da qualidade de vida de seus moradores.

Além de informações sobre o trânsito, que outros dados podem ser compartilhados nesse tipo de plataforma?

Novos tipos de uso dos dados continuam a surgir. Dentro do contexto atual de pandemia, as informações compartilhadas pelo Waze — somadas a outras fontes de dados — foram bastante utilizadas por entidades que se dedicam a tentar entender o impacto de circulação de pessoas durante a pandemia, bem como na atual retomada das atividades.

Outro uso bastante interessante foi para medir a retomada dos brasileiros ao lazer, compras, centros comerciais – com base nas navegações no app. Por exemplo, em setembro do ano passado os locais ao livre tiveram um aumento de 102% em comparação com o mesmo período de 2019. Ou seja, quando a vacinação avançou, pudemos notar uma mudança de comportamento da base de usuários. 

Durante a pandemia, lançamos uma página dedicada à covid-19, convidando governos em todo o mundo para que contribuíssem com dados relevantes – como centros de exames médicos e locais de centros de distribuição de alimentos de emergência – para ajudar a melhorar os mapas para os usuários.

No site, estavam disponíveis os dados de diferença de quilômetros percorridos por país e cidade quando comparados ao período antes da pandemia.

O Waze implementou rapidamente suporte para drive-through e pontos de coleta para ajudar a fornecer aos nossos usuários acesso de contato mínimo aos produtos de nossos parceiros, como comida e outros itens essenciais.

Antes da pandemia, o mundo caminhava para apps de compartilhamentos de veículos e sistemas de carros autônomos. O que mudou no cenário da tecnologia da mobilidade após dois anos de quarentenas e home-office?

Ano passado, realizamos uma pesquisa com a Box1824 que mostra que o carro, que sempre foi um bem valorizado no país, continuará tendo protagonismo na rotina e ganhará um novo significado para os brasileiros.

Além disso, a geração Z já cresceu em um ambiente em que o compartilhamento de ir e vir já é algo natural. Ela também tem preocupações econômicas e climáticas, e ter o próprio automóvel pode nunca ser uma prioridade. Os jovens consumidores da Geração Z estão mais abertos a inovações e a testar produtos e serviços, que incluem novos modais como as bicicletas elétricas, patinetes, entre outros. Em breve, serão eles também os primeiros prováveis consumidores de carros, ônibus autônomos, por exemplo – o conceito Mobility as a Service (MaaS) ou Mobilidade como Serviço. 

Para se ter uma ideia, em uma pesquisa feita com a geração Z, 70% responderam que apoiam a economia compartilhada por causa da facilidade, praticidade e custo ou benefício – dados da pesquisa “Jovens Transformadores”, realizada pelo CIP (Centro de Inteligência Padrão) em parceria com a MindMiners. Ainda, de acordo com este estudo, 56% acreditam que as pessoas irão consumir muito menos e compartilhar muito mais. É a geração que não se preocupa com o “ter”, mas sim com o “usar”.

Por conta dessa geração, nós teremos menos pessoas com um ou mais carros e teremos mais pessoas utilizando diferentes tipos de modais para se locomover, principalmente, usando serviços com valor agregado – seja pela qualidade de vida, pelo meio ambiente ou pela socialização e também com menor custo.

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