Cientistas pedem financiamento a coletores de dados abertos sobre florestas

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Grupo quer novo acordo entre financiadores, usuários e coletores de dados abertos florestais – imagem: Atlantios – Pixabay

Em artigo publicado na Revista Nature Ecology and Evolution, um grupo de 25 pesquisadores de 27 instituições e universidades de vários países, entre elas quatro brasileiras, pede um “acordo radicalmente novo” entre originadores, usuários e financiadores para o tratamento de dados abertos sobre florestas – fundamental para atender a uma crescente demanda por informações florestais, como pesquisa, monitoramento e formulação de políticas públicas de preservação da biodiversidade. O objetivo seria reduzir a desigualdade entre quem coleta e quem usa os dados, de modo a atender as necessidades dos originadores e a garantir que usuários e financiadores contribuam adequadamente.

“Uma abordagem justa e sustentável começa por reconhecer o desafio humano envolvido em medições florestais de longo prazo. Ela deve colocar as pessoas, e não os dados, em primeiro lugar. Isso significa assumir os verdadeiros custos financeiros, profissionais e pessoais dessas medições”, escreve o grupo de cientistas com experiência em ecologia de florestas tropicais e que, além do Brasil, reúne Peru, Colômbia, Argentina, Camarões, Congo, Vietnã, Estados Unidos e países europeus.

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Liderados por Renato Augusto Ferreira de Lima, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP), e Oliver L. Phillips, da Universidade de Leeds (Reino Unido), os cientistas concordam que os dados devem continuar abertos, mas, chamando a atenção para a desigualdade de condições de trabalho entre geradores e usuários das informações e defendendo um processo mais “justo e equitativo”, argumentam que é preciso avaliar de que forma e quando abri-los.

Segundo Lima, Phillips e demais autores, existe um “abismo” entre os profissionais e instituições que medem as florestas em campo e os que utilizam os dados coletados para fazer sínteses em escalas regionais e globais, com diferentes condições de trabalho, infraestrutura, capacitação e financiamento das pesquisas. Para eles os benefícios do compartilhamento de dados florestais fluirão melhor com a valorização do trabalho da coleta in loco e das carreiras dos profissionais envolvidos, garantindo apoio e financiamento a toda a cadeia de coleta, produção e análise dessas informações.

Dados abertos: financiamento da coleta por décadas

Florestas tropicais como a Amazônia são hoje vistas como ponto central de uma abordagem de sistemas integrados para enfrentar as crises globais relacionadas às mudanças climáticas e alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), propostos pelas Nações Unidas na Agenda 2030. Coletar e gerar dados de longo prazo sobre as florestas envolve medir fisicamente árvores de várias espécies in loco e identificá-las, um trabalho que requer atualizações e monitoramentos constantes para registrar mudanças ao longo dos anos e pode representar décadas de financiamento e carreiras inteiras de pesquisadores.

“Com o debate que trazemos à tona queremos atingir instituições financiadoras, usuários que querem acoplar dados florestais a informações de satélites e as casas editoriais, que às vezes exigem dados abertos. É uma forma de alertar que as condições de trabalho para a geração dessas informações não são iguais para todos”, afirma Lima à Agência Fapesp, acrescentando que os geradores de dados biológicos nos trópicos, como botânicos, ecólogos, engenheiros florestais, técnicos e comunidades locais, não dispõem de acesso aos mesmos treinamentos, infraestrutura e recursos: “Isso acaba gerando um ônus para quem tem a responsabilidade de coletar os dados e que, muitas vezes, precisa de investimento continuado para conseguir monitorar a biodiversidade”, diz Lima.

No artigo, o grupo apresenta oito recomendações para garantir os benefícios dos fluxos de dados abertos florestais de longo prazo. Baseadas no que chamam de “modelo alternativo”, essas sugestões se concentram nas necessidades dos originadores para garantir que usuários e financiadores contribuam adequadamente. Entre elas, financiamento dos custos diretos e indiretos em:

  • trabalho de campo e laboratórios, incluindo apoio aos herbários;
  • treinamento e condições seguras de trabalho para os profissionais que produzem os dados florestais, e
  • despesas gerais das instituições responsáveis pela entrega das informações.

Eles também sugerem ser essencial investir no gerenciamento dos dados por meio de bancos, como o que já existe hoje para os registros e sequências de DNA das espécies, mas avaliam que é preciso cobrir os custos de curadoria e padronizar a infraestrutura desses bancos.

Ao tratar dos periódicos, o grupo sugere que eles apoiem os pesquisadores de campo adotando definições holísticas de autoria para incluir todos os envolvidos na coleta e garantir que os resultados sejam divulgados na língua dos criadores. “Isso significa reconhecer os verdadeiros custos para capacitar instituições tropicais. Por último, mas não menos importante, é essencial desenvolver colaborações de longo prazo e equitativas, que devem ser o objetivo declarado de financiadores, produtores e usuários igualmente”, afirmam.

No Brasil, o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) publicou, em 2020, uma pesquisa para compreender as características e o modo como 11 iniciativas de diversos setores florestais utilizavam os dados abertos em ações voltadas à prevenção, ao monitoramento e ao controle do desmatamento. Segundo os representantes dessas ações, os principais problemas eram dados de baixa qualidade, incompletos, desatualizados, além da falta de integração ou centralização das bases usadas.

Fonte: Agência Fapesp

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