Pesquisadores do Escritório Internacional de Pesos e Medidas (BIPM, na sigla em francês), entidade, responsável por estabelecer os padrões internacionais dos sistemas de unidades de medida e que tem sede em Paris, França, estão estudando uma importante atualização no cálculo do segundo. Unidade básica de tempo, o segundo serve também para definir várias outras grandezas, como o metro (comprimento) o Kelvin (temperatura), o ampere (corrente) e o quilograma (massa).
O problema é que a maneira como se define o segundo permanece a mesma desde 1967, quando os cientistas decidiram passar a usar a oscilação das partículas do césio 133 expostas a um tipo especial de micro-ondas. É o chamado relógio atômico. Até então, o homem sempre utilizou a astronomia para fazer isso, sendo a última referência a duração de um dia do ano de 1957 determinado a partir do comportamento da Terra, da Lua e das estrelas.
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Mas, a Ciência descobriu que a duração dos dias não é uniforme. Há 600 milhões de anos, por exemplo, o dia tinha apenas 21 horas e sabe-se agora que a rotação da Terra vem acelerando há cerca de 50 anos. Foi então adotada a definição de que o segundo é o tempo que o césio leva para oscilar 9.192.631.770 vezes. E, passados mais de 50 anos, está na hora de atualizar o césio também.
Já existem os relógios ópticos atômicos com capacidade de observar a oscilação de átomos muito mais rápidos que o césio, como o itérbio, o estrôncio, o mercúrio e o alumínio. Esses relógios funcionam como uma espécie de lupa, permitindo detectar mais oscilações e definir o segundo com maior precisão.
O BIPM quer usar esses relógios ópticos atômicos para refazer o cálculo do segundo, mas ainda precisa definir os critérios para esta medição, como qual elemento da tabela periódica vai ser usado, por exemplo.
Se tudo sair conforme planejado, os critérios devem começar a ser definidos este mês, e o novo segundo deve entrar em vigor a partir de 2030. De acordo com o pesquisador do BIPM, Gérard Petit, a partir desse novo segundo, na prática, nada deve mudar. “Mas, na ciência, é necessária uma definição baseada na melhor medição possível”, afirma o cientista à BBC News, explicando que a razão para atualizar o cálculo do segundo é manter as referências, já que a estrutura de medidas usadas no mundo depende dele: “É possível viver por algum tempo com uma definição que não seja a mais precisa, mas, depois de um certo tempo, ela se torna ininteligível”.
Medir o tempo de forma ultraprecisa vai ainda ajudar a compreender alguns fenômenos, como as ondas gravitacionais oriundas do Big Bang, as distorções no tempo pela gravidade e para detectar a enigmática matéria escura, que compõe 25% do universo e da qual pouco se sabe.
Fonte: BBC News