Você está no conforto da sua casa – na cidade – e resolve fazer um pedido em um aplicativo de entrega de comida pois está com muita fome. Você, com acesso à internet e com recurso financeiro para tal, entra no aplicativo, escolhe seu prato e fornece o seu endereço. Agora é só aguardar…
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Infelizmente nem todas as pessoas têm esse privilégio que deveria ser simples – ter um endereço. No Brasil, são cerca de 50 milhões de pessoas que têm dificuldades de receber alguma encomenda, ou seja, cerca de 23% da população. Muita gente ao redor do mundo também é invisível economicamente e socialmente por esta questão e não é preciso muito tempo despendido para constatar este fato. A ONG Addressing the Unaddressed tem por objetivo justamente dar visibilidade a estas pessoas. Vale destacar que não é só a existência física de uma pessoa que não pode ser localizada, mas suas possíveis atividades econômicas também podem estar invisíveis. A inacessibilidade geográfica, econômica, social e digital é latente e necessitam-se alternativas a fim de minimizar esta questão, sejam endereços urbanos, sejam endereços rurais. Quantas vezes você teve dificuldade de encontrar um endereço em uma área rural ou uma área não formalmente loteada?
Este texto busca – sem muita profundidade acadêmica ou técnica – trazer à discussão uma ou mais alternativas de solução à esta necessidade onde as pessoas estão cada vez mais conectadas e a localização geográfica está cada vez mais necessária. A localização geográfica é uma questão de cidadania!
A morte dos endereços como conhecemos já começou?
Não. O endereçamento por sistema métrico ou loteado adotado no Brasil ou ainda por numeração incremental – como na maioria dos países da Europa – continuará por muito tempo. Ainda causa uma certa estranheza imaginar que forneceríamos nosso endereço como códigos. Imagine quando lhe perguntarem seu endereço (comercial ou residencial) e você responda “58PJ654F+PJH”. Esquisito, não? Os atuais sistemas de endereçamento vão além de caracteres “frios” pois fornecem ligações sociais, senso de pertencimento e referenciais geográficos como bairros, cidades, países etc.
O monopólio e as limitações do CEP – Código de Endereçamento Postal
Não sei se é sabido, mas os códigos de CEP – apesar de haver conhecimento público – não é de acesso público, pelo menos no que diz respeito aos seus dados: uma pessoa não pode adquirir ou usar uma base de dados de CEP sem a anuência dos Correios; e se quiser esta base de dados, tem que pagar! Seguem os preços no website dos Correios.
Várias iniciativas estão ocorrendo – inclusive judiciais – para que os Correios abram sua base de dados e dê acesso integral a todos estes registros, mas sem sucesso por enquanto. Em complemento, mesmo que esta base de CEPs fosse aberta, seu objetivo é logístico, ou seja, recepção, triagem, classificação e entrega. Além disso, a criação, modificação ou supressão de CEPs acontecem conforme as necessidades dos Correios – e não necessariamente demandas sociais e/ou econômicas. Por fim, a precisão do CEP – do ponto de vista geográfico – também é duvidoso. Para se ter uma ideia, tanto o município de Parauapebas/PA quanto São José de Ribamar/MA, que segundo o IBGE em 2022 tinham cerca de 271.577 e 269.657 habitantes, respectivamente, possuem um único CEP correspondente aos seus territórios, ou seja, não havendo codificações específicas por logradouros, dependendo-se exclusivamente então das grafias escritas pelas pessoas nos cadastros.
Um sistema de codificação alternativo é uma interessante saída para usos para além dos cadastros ou localizadores tradicionais. Espera-se que ambos possam coexistir por um bom tempo e o segundo possa-se cair no gosto popular paulatinamente.
E as coordenadas geográficas, por que não as usar?
Imagine, ao responder alguém ou ao preencher algum formulário, ter de escrever um par de coordenadas de latitude e longitude. São, no mínimo pela precisão que buscamos de aproximadamente 10 metros, guardar 12 a 14 números (seis ou sete de latitude e seis ou sete de longitude). Já a vantagem do CEP é que, por estar tanto tempo aí (desde 1971 com 5 dígitos e atualizado em 1992 com 8 dígitos) foi sendo incorporado pelas pessoas.
Temos aqui então um duelo: o CEP tem vantagem ser um código de oito dígitos, mas limitante para localizar pessoas e empresas; as coordenadas são suficientes para localizar as pessoas e empresas, mas limitante para se decorar ou guardar na mente. Há uma ou mais alternativas onde busca-se o melhor de cada solução? A resposta é SIM!
Por que então uma nova codificação para a localização?
Como dito acima, muitas pessoas não possuem endereços formais. Mesmo sabendo que os endereços tradicionais não vão deixar de existir, o fato de haver um sistema de codificação abrangente e onipresente facilita uma localização relativamente exata para situações com emergência, defesa civil, segurança pública, saúde pública, entre outros, para todas as pessoas.
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