Edmilson Volpi*
Seu quilométrico nome oficial é Universalis cosmographia secundum Ptholomaei traditionem et Americi Vespucii alioru[m]que lustrationes, mas é mais conhecido como Mapa de Waldseemüller 1507, por ter sido feito naquele ano pelo geógrafo, cartógrafo e clérigo alemão Martin Waldseemüller em colaboração com o também cartógrafo Mathias Ringmann. Trata-se de um enorme mapa múndi de 1,2m x 2,3m composto por 12 peças de 45cm x 60cm e o primeiro mapa conhecidondo mundo a usar o termo ‘América’ para se referir às novas terras descobertas a oeste da Europa. Mas seu autor pode ter se arrependido, anos depois, ao constatar que as motivações para isso estariam erradas, conforme reportagem da BBC Mundo.
O mapa, que hoje se encontra na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, em Washington, e pode ser consultado em detalhes aqui, esteve perdido por séculos e foi descoberto em um castelo na Alemanha, há cerca de 100 anos. Na época em que foi confeccionado, em papel europeu, com marcas d’água e gravuras, chegou a merecer mil cópias, mas apenas uma sobreviveu. Em 2003, o Congresso americano pagou US$ 10 milhões por ela, o maior valor pago por um mapa em toda a história.
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Um dos aspectos mais interessantes do Mapa Waldseemüller é que ele retrata o Oceano Pacífico, algo totalmente desconhecido dos europeus de 1507, para quem as terras descobertas por Colombo faziam parte do continente asiático. “É o primero mapa que inclui o Novo Mundo separado da Ásia por um oceano específico. O explorador espanhol Vasco Núñez de Balboa só descobriria o Pacífico em 1513”, diz à BBC Mundo John Hessler, curador da Coleção Jay I. Kislak sobre cultura e história da América antiga da Biblioteca do Congresso dos EUA.
Por que ‘América’?
Mas como surgiu o nome América? No topo do mapa Waldseemüller 1507, há as figuras de duas personagens: à esquerda, o geógrafo grego Claudio Ptolomeu (90-168), criador de um completo mapa múndi para sua época; à direita, o navegador italiano naturalizado espanhol Américo Vespúcio, importante explorador do período das Descobertas Marítimas. O trabalho de Waldseemüller e Ringmann baseia-se nas informações desses dois, como se deduz do próprio nome do mapa.
De acordo com informações em um livro que acompanha o mapa, Ringmann foi o tradutor das viagens de Vespúcio e tinha com ele uma relação de amizade. Toby Lester, autor do livro The four parts of the World (As quatro partes do mundo), sobre o mapa Waldseemüller 1507, explica que Ringmann e Waldseemüller acreditavam erroneamente que, antes mesmo de Colombo ter chegado ao Caribe, em 1492, Américo Vespúcio já tinha descoberto o litoral sulamericano. E a explicação para ser ‘América’ e não ‘Américo’ é que os autores seguiram a tradição de dar aos continentes nomes femininos, explica Hessel.
Curiosamente, mais tarde, em 1513, quando Waldseemüller e seus colaboradores publicaram uma nova edição de “Geographiae” de Ptolomeu, o nome ‘América’ já não mais figurava nos mapas, substituído por ‘Terra Incognita‘ (Terra desconhecida). Já em sua Carta Marina (1516), também de Waldseemüller, a América do Sul é designada como ‘Terra Nova’. Estaria o cartógrafo arrependido após ter se certificado que Colombo, e não Vespúcio, havia sido o pioneiro no continente? Não se sabe. No entanto, já era tarde. Outros cartógrafos como Johannes Schöner, em 1515, e Pedro Apiano, em 1520, passaram a adotar o termo ‘América’ para o hemisfério ocidental, e esse foi o nome que perpetuou.
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* Edmilson M. Volpi é engenheiro cartógrafo e editor da página Curiosidades Cartográficas no Facebook e Instagram