A saída do ultra-nacionalista Dmitry Rogozin do comando da agência espacial russa Roscosmos, na semana passada, seria por ter batido de frente com a Agência Europeia (ESA) ou parte de um acordo com a Nasa de renovação da parceria em torno da Estação Espacial Internacional? É difícil descobrir, mas a coincidência da demissão, dias depois do caso da ESA e horas antes do anúncio da renovação do acordo de cooperação com a agência americana, não passou despercebido para o Meduza, veículo da imprensa independente russa.
Segundo o site, Rogozin já estaria até sendo conduzido a um cargo mais alto no Kremlin, talvez convidado a assumir uma das regiões tomadas à Ucrânia recentemente. Enquanto isso, Nasa e Roscosmos retomam a parceria e os voos compartilhados, mesmo em meio à tensão entre os dois países por conta da invasão russa do território ucraniano, que dura desde fevereiro, e das sanções impostas por Washington.
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O decreto do presidente Vladimir Putin exonerando Rogozin – nome na lista de sanções dos EUA desde 2014, quando Moscou anexou unilateralmente a Crimeia – se deu horas antes da renovação do acordo com a Nasa. As duas agências emitiram comunicados celebrando a parceria. “Para garantir a continuidade das operações seguras da Estação Espacial Internacional, proteger a vida dos astronautas e garantir a presença contínua dos EUA no espaço, a Nasa retomará as tripulações integradas nas naves tripuladas dos EUA e da Soyuz russa”, disse a agência espacial americana. “O acordo atende aos interesses da Rússia e dos EUA”, anunciou a Roscosmos.
Na prática, o acordo garante que americanos possam continuar a voar espaçonaves russas e vice-versa. Astronautas dos EUA viajarão na nave russa Soyuz em duas missões, a primeira delas programada para setembro, partindo do Cazaquistão. Já os cosmonautas russos poderão embarcar nos foguetes SpaceX lançados da Flórida.
Segundo a Nasa, a ISS foi projetada para funcionar em conjunto com a participação dos Estados Unidos, Rússia, Europa, Japão e Canadá, e “nenhuma agência espacial tem capacidade para operar a estação de forma independente das outras”.
No início da semana passada, Rogozin, que será substituído por Yuri Borissov – até então responsável pelo complexo militar-industrial russo –, protagonizou uma crise envolvendo a ESA, depois que agência europeia anunciou o encerramento da parceria com a Rússia na missão ExoMars, que colocará um rover em Marte.
Irritado, Rogozin proibiu os cosmonautas da ISS de usarem um braço robótico fabricado na Europa e que se encontra instalado no segmento russo da estação. O equipamento auxilia os astronautas em diversas operações, como caminhadas espaciais e manuseio de carga. Ele ainda ameaçou pegar de volta a plataforma de lançamento russa Kasachok, que está na Europa e também faz parte do projeto ExoMars.
Forte defensor da invasão da Ucrânia, Rogozin é assíduo frequentador do Twitter e do Telegram, onde costuma fazer declarações agressivas contra o Ocidente, enaltecendo, por exemplo, a destruição que um eventual ataque com armas nucleares russas poderia fazer nos territórios inimigos.
Fonte: Olhar Digital e Gizmodo