Quando William H. Rand chegou a Chicago proveniente da Califórnia, em 1856, após a Guerra Civil dos Estados Unidos, seu objetivo era fornecer relatórios anuais, folhetos e bilhetes para a indústria ferroviária. Dois anos depois, para ajudar o negócio que só crescia, ele contratou o jovem tipógrafo recém-chegado da Irlanda Andrew McNally. As competências de McNally se provaram tão boas que ele foi convidado para virar sócio e, assim, em 1868, era fundada a Rand, McNally & Company, que produziria seu primeiro guia ferroviário no ano seguinte, o Western Railway Guide (Guia da Ferrovia do Oeste). Em poucos anos, a venda de mapas passaria a representar 40% das receitas da empresa, que acabaria por se tornar a maior comercializadora de mapas dos EUA.
O próprio Rand atribui o sucesso do negócio de mapas à adoção da cerografia (impressão em cera), enquanto a concorrência usava a velha e limitada litografia a partir de pedras litográficas ou placas de cobre. Desenvolvida por volta de 1830, a técnica permitiu inserir na mesma página ilustrações em meio-tom, mapas coloridos e texto usando a mesma impressora, como mostra o mapa abaixo, de 1874, das linhas férreas da área de Chicago.
Além de mais barata, a impressão cerográfica também era mais rentável. Cada placa de cobre tratada com cera podia ser usada 60 vezes mais que uma pedra litográfica e 100 vezes mais que uma placa de cobre com incisões.
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Em 1876, a Rand McNally fez seu primeiro mapa de parede colorido com todas as ferrovias dos EUA e Canadá. Medindo 1,47m x 2,54 m, o mapa (abaixo) foi, na época, o maior trabalho já realizado pela empresa.
Apesar do pioneirismo tecnológico em termos gráficos e de assombrar o mercado americano pela beleza e qualidade de impressão dos seus mapas, a Rand McNally não tratava sua produção como um trabalho artístico. Pelo contrário, sua visão era claramente comercial e seus mapas, vendidos a preços acessíveis, eram feitos para servir de guias a homens de negócios em viagens, oferecendo informações sobre as cidades, sistemas ferroviários e redes rodoviárias do país, sem se deter sobre características do terreno, como a hidrografia e topografia. Em 1904, a empresa publicou seu primeiro mapa rodoviário, o New Automobile Road Map of New York City & Vicinity.
A empresa também apostava forte no marketing. Seus Atlas foram enviados gratuitamente a todos os grandes jornais do país. Junto, ia um “aviso de publicação” que elogiava o produto e parecia ter sido feito pela redação dos jornais. O resultado foi uma enorme campanha de publicidade gratuita que ajudou a consolidar a marca entre os americanos.
Após várias aquisições de empresas dos EUA e Canadá, a Rand McNally tornou-se a maior empresa de mapas da América do Norte, posição que ocupa até hoje. Em 1998, quando a família finalmente vendeu a sua participação, ela foi avaliada em US$ 500 milhões. Nada mau para uma pequena gráfica que, em 1880, vendia US$ 500 mil por ano
Fonte: Rand MacNally e FineBooks
Edmilson M. Volpi é engenheiro cartógrafo e editor da página Curiosidades Cartográficas no Facebook e Instagram