Durante os séculos 15 e 16, os oceanos eram os espaços entre os mundos e seus animais tão misteriosos que, muitas vezes, eram chamados de monstros marinhos. Invisíveis, difíceis de analisar e com a própria existência incerta, esses monstros representavam o desconhecido.
Em um artigo para a revista digital Aeon, especializada no pensamento científico, filosófico social e artístico, a historiadora de arte da Universidade de de Utrecht, na Holanda, Surekha Davies, compara os monstros marinhos dos mapas pré-modernos às representações dos buracos negros que, até bem pouco tempo, só podiam ser imaginados. Para ela, os dois são meios fantasiosos da ciência para mapear os limites do mundo conhecido.
“Na ausência de informações abrangentes e acessíveis, adquirir conhecimento sobre monstros marinhos e buracos negros exige a criação de imagens criativas”, diz Davies, ressaltando a Carta marina et descriptio septentrionalium terrarum (Carta Marinha e Descrição das Terras do Norte) desenhada em 1539, em Veneza, por Olaus Magnus, geógrafo sueco e arcebispo titular de Uppsala (imagem acima).
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Com sua variedade de polvos, baleias, morsas e outras formas de vida marinha no Atlântico Norte, o mapa é aparentemente um mundo à parte, tal qual a imagem icônica do M87, o primeiro buraco negro fotografado pelo homem, em 2019. Além disso, tornou-se influência para muitos mapas e influentes tratados de história natural por toda a Europa até o fim do século 16 e início do 17.
Edmilson M. Volpi é engenheiro cartógrafo e editor da página Curiosidades Cartográficas no Facebook e Instagram.
Leia o artigo original na Revista Aeon e a tradução para o português no Curiosidades Cartográficas.