Em entrevista à revista Horizon, de pesquisa e inovação da União Europeia, o diretor executivo da Agência da União Europeia para o Programa Espacial (EUSPA), o português Rodrigo da Costa, falou sobre os negócios no espaço e as perspectivas em torno da indústria aeroespacial na Europa.
Criada em 2021 para se tornar o braço operacional das ambições espaciais da União Europeia, a agência gerencia a comercialização de soluções provenientes dos satélites, como cartografia, navegação e missões científicas. Segundo Costa, “os benefícios da tecnologia de satélite estão em todo o lado.”
Horizon: Que benefícios as pessoas podem esperar do comércio espacial europeu num futuro próximo?
Costa: O espaço é a nova revolução tecnológica e está mudando a nossa forma de viver, de trabalhar e de nos divertir. Desde o sistema de navegação nos nossos carros, passando pelo pouso do último voo que fizemos, até ao mapa no nosso celular,mesmo que não saibamos, os benefícios da tecnologia de satélite estão em todo o lado.
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Todos os smartphones vendidos no mercado único europeu (desde março de 2022) estão usando sinais satnav (navegação por satélite) Galileo. Isto melhora a localização de uma chamada de emergência, o que resultará em tempos de resposta mais rápidos e mais vidas salvas.
Por outras palavras, o Espaço é uma solução – uma infraestrutura invisível que fornece serviços muito visíveis.
Horizon: Como é que o negócio do Espaço está preparado para crescer?
Costa: Prevê-se que as vendas anuais dos receptores satnav cresçam de 1,8 bilhão para 2,5 bilhões de aparelhos, entre 2021 e 2031. Os mercados do consumo, o turismo e a saúde irão dominar. Os smartphones e os artigos de vestuário são responsáveis por 92% dos receptores. Mais de 10 bilhões de aparelhos satnav serão instalados até 2031, a nível global.
Para além do mercado de consumo, os mercados profissionais da agricultura, desenvolvimento urbano, patrimônio cultural e infraestruturas também irão contribuir para o fluxo de receitas.
A Internet das Coisas (IoT) permitiu a utilização de dispositivos, aplicativos e serviços baseados em dados, e o impulso das cidades inteligentes e da mobilidade vai levar a um aumento da procura.
Em termos de observação da Terra, as receitas comerciais deverão duplicar de cerca de 2,8 bilhões para mais de 5,5 bilhões de euros, durante a próxima década.
Horizon: Que papel o conhecimento do Espaço desempenha para ajudar a proteger o nosso planeta?
Costa: Os Serviços Copernicus monitoram uma série de indicadores climáticos chave, como o nível do mar, a temperatura e as correntes de ar. Estes dados podem ser usados para ajudar a desenvolver decisões de política climática global. Por meio do Serviço de Alterações Climáticas, fornecemos informação sobre o clima passado, presente e futuro a empresários e decisores políticos.
O programa espacial europeu fornece uma grande quantidade de informação sobre o clima.
Como exemplo dos serviços meteorológicos, a Horizon publica a imagem acima, mostrando os fiordes noruegueses perto de Tromsø, já no círculo Ártico, durante a intensa onda de calor que se abateu sobre grande parte da Europa no mês passado. As áreas mais escuras da água indicam grandes descargas de sedimentos provenientes do derretimento do gelo para os fiordes.
No alto da página, outro exemplo de monitoramento das condições atmosféricas, dessa vez, no Mar Mediterrâneo. A 30 de junho, um dos satélites Copernicus, o Sentinel-3, captou uma nuvem de pó do Saara envolvendo os céus do Norte de África, do Sul da Itália e de Malta. A previsão era de que a tempestade continuasse e atingisse Espanha nos dias seguintes.
Fonte: Horizon