Estudo da ESG aponta caminhos para o Brasil no cenário global e o papel do Geodireito

O Brasil enfrenta o desafio de definir uma Grande Estratégia nacional que articule seu potencial geopolítico em uma proposta de projeção para o século XXI. Em um recente artigo acadêmico, publicado pela Escola Superior de Guerra (ESG) e assinado pelo professor Guilherme Sandoval Góes, Professor Emérito da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) que estuda o Geodireito aplicado a Geopolítica, são apresentados os contornos de uma estratégia que parte de quatro arquétipos geopolíticos. Esses arquétipos – energia, alimentação, água e meio ambiente – conferem ao Brasil um potencial para se firmar como superpotência em cada uma dessas áreas. No entanto, o autor aponta que, até o momento, o país carece de um modelo estratégico próprio, essencial para transformar essas vantagens naturais e econômicas em poder global.

A proposta se estrutura em torno de uma “tríplice tríade”: três conjuntos de relações estratégicas denominadas tríade sul-americana, tríade atlântica e tríade do poder central. Cada uma dessas tríades foi projetada para consolidar o Brasil como potência regional e mundial, com uma base sólida que contribua para enfrentar as desigualdades internas e alcançar os objetivos constitucionais de uma sociedade livre, justa e solidária, como previsto na Constituição brasileira.

A primeira tríade, a sul-americana, reforça a posição de liderança do Brasil na América do Sul, englobando a integração de três regiões: o Arco Amazônico, o Pacto Andino e o Cone Sul. Segundo Góes, o Brasil tem a dimensão geopolítica necessária para unir esses blocos e criar uma rede integrada e autônoma que represente os interesses do continente sul-americano.

Na segunda tríade, a tríade atlântica, o foco é a expansão da influência brasileira nos oceanos e na matriz energética verde. Ela inclui a “Amazônia Azul”, a projeção do Brasil para a África Ocidental e uma conexão estratégica com a Antártica. Em tempos de transição energética, o Atlântico Sul e suas reservas marítimas se tornam cruciais para o Brasil diversificar suas fontes de energia e disputar espaços no mercado energético global, uma área em que empresas e governos atuam como núcleos estratégicos de seus países de origem.

A terceira tríade, a do poder mundial, aborda as relações com potências globais como Estados Unidos, Europa e China, sem desconsiderar países como Índia, Rússia e Japão. Esse eixo se fundamenta na independência geopolítica, evitando alinhamentos automáticos com grandes potências, especialmente os Estados Unidos e a China. A tríade do poder mundial visa fortalecer a posição do Brasil no cenário global, reforçando sua autonomia e capacidade de influência nos grandes centros de decisão.

O autor compara essa proposta com a National Security Strategy dos Estados Unidos, uma referência em termos de estruturação de objetivos estratégicos. No entanto, a ideia é construir uma estratégia brasileira autóctone que não apenas vise o fortalecimento econômico e militar, mas também a redução da pobreza e das desigualdades sociais e regionais, elementos intrínsecos aos objetivos constitucionais do país. Uma estratégia nacional sólida é apontada como necessária para combater a exclusão social e fortalecer a economia nacional, permitindo que o Brasil exerça uma influência significativa sobre os mercados internacionais de inovação e tecnologia, áreas onde o país ainda atua como periférico.

Para operacionalizar essa Grande Estratégia, Góes sugere a implementação do modelo da “hélice tríplice” – uma interação estratégica entre empresas, universidades e governo. Esse modelo visa promover a inovação e o desenvolvimento tecnológico, possibilitando que o Brasil fortaleça sua economia e aumente sua competitividade internacional. Com núcleos empresariais e acadêmicos consolidados, o país poderia canalizar recursos para infraestrutura, tecnologia e defesa, áreas fundamentais para o crescimento sustentável.

A ausência de uma estratégia própria limita a capacidade do Brasil de transformar seu potencial natural em influência geopolítica. Ao propor a tríplice tríade, Góes enfatiza que o Brasil precisa pensar estrategicamente seu futuro, usando seu vasto patrimônio energético, alimentar, aquífero e ambiental para estabelecer uma posição firme entre as potências globais.

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