Everest, o cartógrafo que (a contragosto) nomeia maior montanha do mundo

Everest
George Everest com a face norte da montanha que xxxx ao fundo

Edmilson Volpi*

Seu nome virou sinônimo de altitude, desafio e dificuldades e é conhecido globalmente, mesmo por quem nunca pôs os pés na Ásia. Mesmo assim, Sir George Everest (1790 – 1866), o cartógrafo inglês responsável por completar o levantamento topográfico da Índia e cujos cálculos permitiram medir com grande precisão a altura do chamado ‘teto do mundo’, nunca chegou a ver a montanha e sequer queria que ela fosse batizada dessa forma, como mostra reportagem da National Geographic.

Na era de ouro da exploração, era comum dar a lugares visitados os nomes dos próprios membros das badaladas expedições. Mas Everest nada tinha a ver com o romantismo das explorações do século 19, mas com o relato técnico, inovador e equilibrado de um cartógrafo que se dedicava a medir terras. E isso já seria suficiente para deixar seu nome marcado na história da geografia.

Everest era, acima de tudo, um grande erudito. Além de cartógrafo, era inventor. Como engenheiro, aperfeiçoou os instrumentos de agrimensura de seu tempo, fazendo, com isso, medições muito precisas, do Himalaia até o extremo sul do subcontinente indiano, usando apenas medições no solo. Uma conquista impressionante para a época, sem o auxílio da alta tecnologia dos lasers, dos satélites ou mesmo de fotografias aéreas dos dias de hoje.

Antes do Everest aperfeiçoar seus dispositivos de medição, todos os estudos de terreno eram realizados com teodolitos primitivos, instrumentos de medição ótico-mecânicos usados para medir ângulos verticais e, acima de tudo, horizontais.

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Depois de estudar em uma academia militar, o jovem George viajou para a Índia, em 1806, como cadete da artilharia. Ali, graças à sua facilidade com a matemática e a astronomia, foi comissionado como cartógrafo. Em 1818, foi nomeado assistente do coronel William Lambton, diretor do Grande Projeto de Topografia Trigonométrica da Índia, a quem substituiria como superintendente em 1823.

Durante sua permanência em Hyderabad, George Everest foi responsável pelo levantamento do arco meridiano do ponto mais ao sul da Índia até o Nepal, uma distância que cobre cerca de 2.400 quilômetros. A gigantesca tarefa, iniciada por Lambton em 1806, levou trinta e cinco anos para ser concluída.

Everest preferia um nome local

Ao longo de décadas de trabalho de campo, Everest contraiu inúmeras doenças que prejudicaram sua saúde, como malária, febre tifóide, hepatite, doença da floresta Kyasanur (febre hemorrágica viral transmitida por carrapatos), síndrome de Guillain-Barré e uma possível neurossífilis, sem falar nos episódios da doença do “Chapeleiro Maluco”, causada pelo mercúrio que ele ingeria em grandes doses para tratar seus males.

Mas, apesar da saúde debilitada, Everest era um trabalhador incansável e consciencioso que não abandonava uma área até que tivesse absoluta certeza de ter obtido as leituras e os dados exatos. Suas informações meticulosas foram fundamentais para tornar os mapas da Índia muito mais precisos, além de abrirem as portas para várias instituições científicas, incluindo a prestigiosas Royal Geographical Society de Londres.

Foi seu aluno, Andrew Scott Waugh, que completou a medição do meridiano do Norte. em 1841, dois anos antes da aposentadoria de Everest e seu retorno à Inglaterra. Seu posto na Índia foi assumido pelo próprio Waugh, que passou a dar atenção a um dos picos nevados da cadeia do Himalaia. Em 1852, o matemático bengali Radhanath Sikdar disse a Waugh que o Pico XV da cordilheira, como era então conhecido, era o mais alto do mundo, com 8.839,2 metros (hoje corrigido para 8.848 metros).

Waugh confirmou os cálculos de Sikdar em 1856, quando anunciou seus resultados para a Royal Geographical Society. Apesar de tibetanos e nepaleses terem seus próprios nomes para a montanha – os tibetanos a chamavam de Chomo Lungma (mãe do universo), enquanto os nepaleses, de Sagarmatha (na frente do céu) –, Waugh propôs batizar o pico com o nome de seu predecessor.

Durante anos, a proposta de Waugh foi amplamente debatida pela Royal Geographical Society e entidades semelhantes, com o próprio Everest se posicionando contra a idéia. Segundo ele, “o nativo da Índia não pode pronunciá-lo e não pode ser escrito em hindi”. Outros estudiosos apresentaram suas próprias propostas, considerando-as mais adequadas para denominar a montanha: Devadhunga foi proposto pelo naturalista e etnólogo Brian Houghton Hodgson, enquanto o explorador alemão Hermann Schlagintwei sugeriu Gaurisankar.

Por seus serviços à Grã-Bretanha, em 1861, George Everest foi nomeado cavaleiro pela Rainha Vitória e, em 1865, a Royal Geographical Society adotou oficialmente a designação Monte Everest para a mais alta montanha do mundo. Um ano mais tarde, aos 76 anos, Everest morreria de causas naturais, sem nunca ter sido capaz de conhecer a montanha eternizada com seu nome.

Leia aqui o artigo original e a tradução, no Curiosidades Cartográficas.

*Edmilson M. Volpi é engenheiro cartógrafo e editor da página Curiosidades Cartográficas no Facebook Instagram

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