Fiocruz, IME e LNCC mapeiam distribuição de espécies animais

Animais
Estudo reúne 11,5 mil atributos com dados para todos os 5,5 mil municípios do país (reprodução)

Um grupo de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Instituto Militar de Engenharia (IME) e do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) produziu uma extensa base de dados sobre a distribuição das espécies animais e a ocorrência de zoonoses no território brasileiro fundamental para apoiar a elaboração de políticas de saúde pública efetivas no país. Publicado na Scientific Data – Nature, o artigo Statistically enriched geospatial datasets of Brazilian municipalities for data-driven modeling oferece 11,5 mil atributos com informações estatísticas sobre as características sociais e ambientais para todos os 5.570 municípios do país.

O trabalho é uma resposta consistente para a falta de georreferenciamento de dados em pesquisas nesta área e que se valem de dados biológicos, ecológicos e epidemiológicos – um limitador notável e recorrente, especialmente nos conjuntos de dados disponibilizados pelos diversos sistemas de informação da saúde do Brasil. Essa lacuna acaba atrapalhando e até inviabilizando análises e modelagens espaciais em diversas pesquisas, como a modelagem de doenças infecciosas transmitidas entre animais e pessoas.

Segundo a Fiocruz, a ausência de georreferenciamento dos dados científicos é comum, não só nos dados históricos, quando não se dispunha de equipamentos acessíveis (GPS de mão) que pudessem obter coordenadas geográficas no campo de forma imediata e acurada. Ela também pode ser observada nas diferentes plataformas de coleções biológicas, como Specieslink e Catalog of Life. Nos sistemas nacionais de saúde, que também informam sobre animais de interesse, os dados são municipalizados. Nesses casos, a referência espacial é imprecisa, em grande parte por conta dos nomes de localidades, bairros, municípios ou estados. 

Com as novas tecnologias de análises computacionais e geoespaciais, a ausência de georreferenciamento nos dados de saúde resulta na produção de modelos ecológicos/epidemiológicos espacialmente generalistas e imprecisos, o que limita a atuação das políticas públicas de vigilância, prevenção e controle além da compreensão da ecologia das doenças que são dinâmicas no tempo e espaço. A estratégia para mitigar os efeitos da imprecisão espacial desenvolvida foi enriquecer as informações sobre a área dos municípios (caracterização estatística socioambiental municipal) com medidas e proporções de cada fator socioambiental presente nesses territórios.    

Leia também:

O desafio era evidenciar a importância desses fatores sobre a ocorrência de surtos, casos e endemismo de doenças. Para isso, os autores realizaram o esforço de considerar um amplo e complexo espectro de dados sociais e ambientais que compõem as paisagens dos municípios brasileiros (uso e cobertura do solo, temperatura, precipitação, contagem/densidade populacional, altitude, geomorfologia, solos, mineração, rodovias, drenagem, unidades de conservação, terras indígenas, entre outros).   

Embora essa base de dados tenha sido originalmente concebida para geração de modelos de favorabilidade de ocorrência de zoonoses, qualquer estudo que se baseie em estatísticas resumidas das características socioambientais do território brasileiro (até o nível municipal), ao longo do tempo, pode ser beneficiado. Os autores consideram que, a partir da base de caracterização estatística socioambiental dos municípios e da aplicação de métodos de aprendizagem de máquina, muitas das relações indiretas ou não óbvias, mas que influenciam significativamente a ocorrência de doenças, tendem a ser identificadas e podem contribuir para o aprofundamento do conhecimento e para o esclarecimento de muitas questões ainda não plenamente conhecidas no complexo contexto socioambiental brasileiro.  

Fruto das pesquisas desenvolvidas por Livia Abdalla, Douglas A. Augusto, Marcia Chame, Amanda S. Dufek, Leonardo Oliveira e Eduardo Krempser para a geração de modelos preditivos da ocorrência da Febre Amarela Silvestre, o trabalho tem origem na tese de doutorado de Livia, que valeu à pesquisadora bolsista da Plataforma Institucional Biodiversidade e Saúde Silvestre da Fiocruz, o Prêmio MapBiomas em 2020.

Fonte: Agência Fiocruz

Veja também

Não perca as notícias de geoinformação