Geopolítica: Para Eurasia, a Ucrânia será dividida

Amanhã haverá o segundo aniversário da invasão russa na Ucrânia. Para Ian Bremmer, presidente da consultoria de risco Eurasia Group, principal consultoria de risco do mundo, o futuro da Ucrânia e seu território podem estar diante de uma mudança significativa. Em uma mesa-redonda durante a Conferência de Segurança de Munique na semana passada, Bremmer sugeriu que a Ucrânia poderá ser dividida, com parte de seu território ocupado pela Rússia, uma realidade que o Ocidente, especialmente os Estados Unidos, pode ter que aceitar.

Esta avaliação vem no contexto de uma situação militar desafiadora para a Ucrânia e a crescente tensão política nos EUA sobre a continuidade da ajuda militar a Kiev. Segundo Bremmer, os ucranianos podem não ter capacidade para retomar seus territórios perdidos, e isso pode levar a um cenário onde o conflito seja ‘congelado’, com a Ucrânia dividida em duas. “Estamos falando de dividir a Ucrânia. Uma partilha. Ninguém vai aceitar isso. Mas os americanos são bons em aceitar o inaceitável. A Coreia do Norte tem armas nucleares. Para os americanos isso ainda é inaceitável, mas aprenderam a conviver com isso. O mesmo vale para o Talibã governando o Afeganistão. Maduro na Venezuela. Assad na Síria. Uma partilha da Ucrânia pode ser uma dessas coisas”, afirma Bremmer.

Due Diligence

Citando o exemplo da Crimeia, que foi ocupada pela Rússia em 2014 e acabou sendo aceita pela Europa, Bremmer acredita que um cenário semelhante pode se desdobrar com outras partes da Ucrânia. Ele também destacou as dificuldades enfrentadas pela Ucrânia na frente de batalha, observando a idade média dos combatentes ucranianos e questionando a sustentabilidade desse esforço a longo prazo.

Além disso, Bremmer apontou para os desafios políticos nos EUA, onde a aprovação de mais ajuda militar para a Ucrânia enfrenta obstáculos. A situação política interna americana, com uma Câmara dos Representantes dominada pela oposição republicana, torna incerta a continuidade do apoio americano.

Embora Bremmer não sugira que o Ocidente vá reconhecer formalmente as anexações da Rússia como legítimas, ele vê a partilha da Ucrânia como um desfecho prático do conflito. Diante deste cenário, a Ucrânia poderia se concentrar na reconstrução do território sob seu controle, cerca de 82%, buscando garantias de segurança e a adesão à União Europeia. Esses passos poderiam ser apresentados aos cidadãos ucranianos como vitórias significativas, apesar da dolorosa realidade dos crimes de guerra e das perdas humanas e territoriais. Isso poderia abrir um futuro mais promissor para a Ucrânia e seus habitantes, um futuro que não parecia possível antes dos conflitos de 2014 e 2022.

Com informações de DW

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