Governo cria câmara sem Inpe para ‘qualificar desmatamento’

desmatamento
Queimadas na Amazônia em 2019 (imagem: NASA)

O governo federal publicou semana passada a Resolução 11, de 25 de março, criando a Câmara Consultiva Temática para “qualificar os dados de desmatamento e incêndios a fim de diferenciar crimes ambientais de outras atividades, utilizando bases de dados oficiais já existentes”. Coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), o grupo terá ainda representantes dos ministérios da Agricultura, Defesa, Economia, Justiça e Segurança Pública, mas não contará com ninguém do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), responsável pela geração dos dados oficiais, ou do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, que comanda o Inpe.

Questionada pela imprensa sobre a ausência do Inpe no novo órgão, a assessoria de imprensa do MMA publicou nota explicando que a Câmara “prevê a qualificação dos dados publicados e já fornecidos pelo Inpe e, por isso, é composta por órgãos que possuem outras bases de dados: Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia – Censipam (Ministério da Defesa), Polícia Federal (Ministério da Justiça e Segurança Pública), Incra e Serviço Florestal Brasileiro – SFB (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) e Secretaria de Governo Digital (Ministério da Economia). Cabe destacar ainda que a composição da Câmara Consultiva Temática fora aprovada em colegiado estabelecido pelo Decreto Nº 10.142, de 28 de novembro de 2019.”

“O que se entende desta decisão é que ou o governo quer desmentir os dados do Inpe ou minimizar os dados, e dizer que o desmatamento é legal”, diz ao Valor Econômico o ex-diretor do Inpe Gilberto Câmara, cientista da computação e à frente do Inpe de 2005 a 2012. Para ele será difícil desmentir os dados do Instituto a três meses das eleições: “Não há como apagar o passado, porque as imagens de satélite usadas pelo Prodes são de acesso livre e disponíveis em vários repositórios abertos no mundo”.

Leia também:

Para fonte ligada ao tema ouvida pelo Valor Ecnonômico, no entanto, “soa muito estranho, frente a todos esses anos de ataque aos dados do Inpe, que se crie uma câmara técnica nestas bases”. A fonte argumenta que os ministérios indicados não teriam os quadros técnicos necessários para qualificar os dados do Inpe. “Qual seria o papel desse comitê na divulgação dos dados anuais do Prodes, por exemplo?”, questiona, referindo-se aos dados oficiais e históricos sobre o desmatamento anual da Amazônia, divulgados pelo Inpe uma vez ao ano.

Câmara, que lidera uma equipe que analisa a relação do desmatamento depois de 2008 com o cumprimento do Código Florestal, passou ao jornal dados que qualificam o desmatamento por tipo de propriedade na Amazônia. “Limpamos os dados do Cadastro Ambiental Rural, o CAR, para poder separar dados válidos de inválidos. Dados inválidos são pedidos de registro no CAR sobre terras indígenas, unidades de conservação e terras não destinadas pela União”, explica.

Cruzando os dados do CAR com o Prodes, a conclusão, é que, de 2008 a 2020, “em média, entre 70% e 80% do desmatamento na Amazônia é ilegal”, afirma Câmara. Segundo ele, olhando o percentual anual do desmatamento e as terras onde isso acontece (propriedades privadas, unidades de conservação e terras públicas sem destinação), é possível concluir que, “em 2020, cerca de 30% do desmatamento vem da grilagem; 15% ocorreu em unidades de conservação e 55% em terras privadas”.

Em maio, o Inpe registrou novos recordes de queimada na Amazônia, com 2.287 focos de incêndio – um aumento de 96% sobre maio de 2021 e o maior registro desde maio de 2004. Considerando os cinco primeiros meses do ano, o aumento foi de 22% sobre o mesmo período de 2021.

Já no Cerrado, foram 3.578 pontos de incêndio em maio, um aumento de 35% em relação a maio de 2021 e o número mais alto para o mês, desde que o início da série, em junho de 1998.

Fonte: Valor Econômico

Veja também

Geo e Legislação

Google Maps deixará usuário “desenhar” estradas para corrigir mapas

Recurso “drawing” dá aos usuários da ferramenta poder de edição para fazer ligeiras correções, permitindo traçar linhas sobre uma rota, dar um novo nome, excluí-la ou corrigir sua orientação para o cálculo de trajetórias. Alterações serão tratadas como sugestão e enviadas para análise pela plataforma, que, em até sete dias,

Geo e Legislação

Finlandeses apresentam protótipo do 1º satélite de madeira

Foi apresentado nesta quarta-feira (12), em Helsinque, o protótipo do primeiro satélite de madeira do mundo. Conduzido pelas empresas finlandesas UPM Plywood, Arctic Astronautics e Huld, o projeto do nano-satélite Wisa Woodsat foi anunciado em abril e deve ser lançado até final deste ano a partir da Península Mahia, na