Guerra da Ucrânia: quando mapas viram ‘armas’

Guerra na Ucrânia
Imagem de satélite da Maxar identifica coluna militar russa de 64 km rumo a Kiev, na Ucrânia (Imagem: Twitter Maxar)

Em tempos de guerra da Ucrânia, informação é quase tão importante quanto munição. E, na hierarquia dos dados, os mapas adquirem um valor inestimável, podendo fazer a diferença entre a vitória e a derrota. No mundo geolocalizado em tempo real que vivemos hoje e em meio a um conflito armado, essa realidade torna-se ainda mais presente.

Em um artigo especial para o Financial Times, na semana passada, John Gapper mostra como o acompanhamento em tempo real por aplicativos e imagens de satélite tornam-se uma ferramenta crucial no conflito que já dura quase duas semanas.

Que o diga o professor especializado em controle de armas do Instituto de Estudos Internacionais de Middlebury, em Monterey, Califórnia, Jeffrey Lewis, que, um dia antes da invasão do país por tropas russas, já dava o alerta que algo estava sendo preparado perto da fronteira ucraniana. Usando dados do Google Maps, Lewis percebeu um congestionamento anormal nas primeiras horas do dia 23 de fevereiro e, combinando isso com imagens de radar, divulgou a informação no Twitter (abaixo).

Logo nos primeiros dias da invasão, a Apple suspendeu as vendas de iPhones e outros produtos na Rússia. Mas não só. A empresa também tomou uma medida mais discreta: junto com o Google, desativou as atualizações de tráfego para seu serviço de mapeamento ao vivo na Ucrânia como precaução contra um possível uso pelo exército invasor.

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Claro que a Rússia trabalha suas próprias imagens de satélite e ferramentas de mapeamento e não depende da Apple ou do Google para planejar suas ações, mas, como demonstra Jeffrey Lewis, é melhor não facilitar.

E a Rússia sabe disso melhor que ninguém. Durante o período da União Soviética, por medo de alguma invasão, os russos trabalhavam intensamente para evitar que dados geográficos precisos aparecessem em sua cartografia pública. A partir dos anos 1930, passaram a introduzir distorções visuais e borrões em seus mapas. Além disso, os mapas turísticos de Moscou não mostravam certos edifícios, como a sede da KGB (a polícia secreta soviética), por exemplo.

Acompanhando a guerra da Ucrânia em tempo real

Mas, nos dias de hoje, com um número crescente de ‘olhos’ públicos e privados nos céus, fica cada vez mais difícil para governos autoritários controlarem e manipularem a informação e a narrativa visual. Além de um sem número de bancos de dados públicos abertos, uma gigantesca quantidade de mapeamento e dados espaciais encontra-se disponível por meio de provedores privados, como Apple, o Google e serviços de satélite, como Capella Space, Planet e Maxar.

Esta última foi responsável por mostrar a gigantesca coluna de veículos militares russos a caminho de Kiev, nos primeiros dias da invasão. Um comboio que se estendia por 64 km e que podia ser visto em excelente resolução, inclusive com um vídeo postado pela empresa no Twitter (abaixo).

A inteligência de código aberto também ajuda a pintar em cores vívidas o monitoramento da realidade. Exemplos disso são sites como o Flightradar24, que acompanha em tempo real voos de todos os tipos de aeronaves em todo o mundo, ou a conta do Twitter da Russian Oligarch Jets, que usam dados públicos de um site de entusiastas de voos para rastrear os jatos e helicópteros particulares de magnatas russos, como Roman Abramovich (dono do clube inglês Chelsea) e Oleg Deripaska, CEO de um gigantesco conglomerado industrial na Rússia.

Esse tipo de estratégia usando inteligência aberta parece estar funcionando, pois, na semana passada, a Rússia realizou um ataque cibernético que derrubou temporariamente o Liveuamap, um grupo de código aberto com sede na Ucrânia que consolida em mapas dados e imagens da invasão coletadas a partir de mídias sociais e outras fontes.

Fonte: Financial Times

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