A Direção do IBGE afirmou hoje ao Portal Geocracia que não pretende alterar o questionário do Censo do ano que vem para refletir os efeitos da pandemia. Segundo a instituição, o questionário e o cronograma do Censo estão fechados, “são etapas ultrapassadas”: “O IBGE entende que não faz sentido reabrir discussão sobre questionário neste momento. O questionário foi testado e já está fechado. O Censo Demográfico não é uma investigação conjuntural”, afirmou a Fundação em nota ao Geocracia, acrescentando que está tratando da verba do Censo 2022 com o Ministério da Economia, sem, no entanto, esclarecer se está pleiteando algum reforço. Para o ex-presidente do IBGE Roberto Olinto, contudo, essa é uma recomendação importante da própria ONU, em recente documento (United Nations Expert Group Meeting on the Impact of the Covid-19 Pandemic on Conducting Population and Housing Census and on Census Data Quality Concerns), e que deveria ser seguida.
“Já está na hora de o IBGE abrir essa rediscussão do Censo pós-pandemia com a sociedade. A ONU recomenda aos institutos de pesquisa rever questionários e reforçar os gastos com propaganda, importante em todos os Censos e que, este ano, por conta da covid, terá de ser maior para que as pessoas abram as portas aos recenseadores. Sem propaganda, não se faz um Censo de qualidade”, diz Olinto ao Geocracia, acrescentando que o Censo 2022 ainda terá gastos importantes com equipamentos sanitários para os agentes de coleta.
Mesmo com a aprovação, semana passada, da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que definiu o Censo como prioridade do orçamento, Olinto teme que o IBGE perca a oportunidade de fazer uma pesquisa de qualidade que já capte as consequências da pandemia. Para ele, a entidade está paralisada e já deveria estar dialogando com a sociedade, sobre como medir os efeitos demográficos da covid – que atrasou o Censo em dois anos –, e com o governo, para obter mais recursos.
Na semana passada, a aprovação da LDO garantiu que haverá orçamento para o Censo 2022. Cumprindo uma decisão do STF, o relator incluiu a pesquisa como prioridade. O valor, no entanto, ainda não foi definido pelo governo, apesar do corte do valor inicial (R$ 3 bilhões, pensando em 2020) para o que seria realizado no ano passado (R$ 2 bilhões). Para Olinto, o IBGE não pode ficar fechado e tem que pedir apoio à sociedade por mais recursos: “O IBGE precisa brigar por recursos que permitam fazer esse Censo pós-covid, e não é o orçamento pré-pandemia e que acabou reduzido em um terço, que vai resolver isso. Tem que estar presente com um projeto detalhado nas mãos e brigar pelo que precisa. O IBGE está perdendo tempo em não abrir essa discussão. Corremos um grande risco de realizar um Censo de má qualidade”.