Luiz Ugeda*
Muito se fala sobre as pesquisas eleitorais, que têm sido elemento fundamental de aferição de perspectiva de poder. Parte-se do pressuposto as respostas de uma amostragem do público podem representar a totalidade dos votantes e, guardadas as proporções e as margens de erro, são um termômetro do momento. Estamos falando de usar a estatística para prever o futuro, mais ou menos como se faz para prever o tempo, se o dólar vai subir ou cair ou se uma seguradora deve ou não aprovar uma apólice.
Mas a amostragem de votos não é o único modo de aplicar a estatística preditiva para estimar votos futuros. A série histórica de votos por zonas eleitorais, suas características, a mudança do espectro político de cada zona e em qual velocidade ocorreu a mudança podem dizer tanto quanto, ou até mais, do que a intenção de voto futuro.
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Isso acontece porque os resultados eleitorais permitem sobrepormos em um mapa as características políticas de um povo em seu território, mas também seus valores econômicos, culturais, religiosos, étnicos e demográficos. E as variações políticas identificadas entre as eleições em um mesmo território, além de refletirem a forma que o país progride em seus valores, mostram as probabilidades de voto para as eleições seguintes.
As relações entre geografia, democracia e ciência política nunca foram tão visíveis. A intenção de voto se baseia estritamente no “quem” do processo eleitoral, ao passo que o Geografia do Voto foca no “onde”, ou seja, como o conjunto de fatores sociais, ambientais, urbanísticos ou fundiários são capazes de definir votos em um determinado território. A intenção é descobrir o que faz a baixada fluminense, o pampa gaúcho, o triângulo mineiro ou o sertão nordestino votarem de forma convergente ou divergente quando analisamos o território para além de um candidato ser de esquerda ou de direita.
A tecnologia digital e a crescente disponibilidade de dados eletrônicos trazem uma perspectiva completamente renovada para esta fronteira do conhecimento. O efeito do lugar nas preferências e nos comportamentos políticos se faz cada vez mais presente. As influências geográficas sobre o voto apontam quais são os fatores que têm sido decisivos na formação de um padrão territorial de voto, quais as consequências deste padrão e como este padrão muda para que haja o alcance de objetivos específicos.
* Luiz Ugeda é advogado e geógrafo, pós-doutor em Direito (UFMG), doutor em Geografia (UnB) e fundador do Geocracia. Semanalmente, publica artigos no Blog do Geografia do Voto, no Estadão.