As instituições interligadas e entrelaçadas que debatem o tema cidades inteligentes em territórios virtuais constituem formidável e inovador instrumento para qualificação das cidades e metrópoles brasileiras — um objetivo que instituições públicas e privadas perseguem desde o início do século passado. Isso porque o uso e aperfeiçoamento de tecnologias de comunicação e informação (TICs) tem potenciais para alcançar metas impossíveis de atingir mediante planos diretores urbanos e tecnologias do passado.
Precursores das cidades inteligentes, os distritos digitais surgiram, nos anos 50, no Vale do Silício, no Digital Hub de Dublin, na Route 128 de Boston, nos estabelecimentos da Microsoft, em Seattle, na cidade da ciência, no Japão — entre dezenas de outros.
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Em 1980, a Universidade da Pensilvânia e a Fundación Metropoli de Madrid criaram o conceito de smart cities, quando selecionam 20 cidades de diferentes tamanhos que se destacavam por serem inovadoras, socialmente abertas e dispostas a colaborar com outras cidades. No livro “Territórios Inteligentes” (2004), o presidente da Fundación Alfonso Vegara indica as características comuns das smart cities: integração da comunidade e da economia no “desenho” (design) da cidade; sensibilidade e responsabilidade ambiental; capacidade de criar vantagens comparativas; compromisso com a coesão e integração para promover o desenvolvimento social; estruturas coerentes na gestão do território; diálogo com o entorno regional, nacional e mundial, e incentivo à inovação. Curitiba acabou sendo escolhida pelas inovações urbanísticas, impacto social dos parques, esforço ambiental e pela capacidade para atrair empresas internacionais.
No século XXI, as tecnologias de informação e comunicação (TICs) revolucionam o mundo contemporâneo e geram o conceito de Cidade Inteligente — com origem claramente definida, embora usado de forma abrangente e vaga.
Tangenciando o debate conceitual, destaco os potenciais de TICS que os ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovações e do Desenvolvimento Regional, além da Sociedade Alemã para Cooperação Internacional (GIZ) trouxeram à tona quando virtualmente entrelaçaram dezenas de instituições interessadas no uso da tecnologia na governança urbana brasileira, e consolidaram a Carta aos Brasileiros — cartilha baseada no uso das TICs, um passo adiante da smart city dos 80.
As inúmeras variantes no uso de TICs oferecem um leque de alternativas cujo potencial, na governança urbana, precisa ser consolidado. Olhando as instituições brasileiras do ponto de vista global, é evidente que poderemos ser potência mundial no uso de TICs para fortalecer a cidadania, a qualidade de vida urbana e o desenvolvimento urbano sustentável. Para isso precisamos definir conceitos e objetivos, assim como estabelecer metas, estratégias, programas e projetos para este estratégico setor do mundo contemporâneo.
O saber e a cadeia de produção e consumo de cidades inteligentes oferece grandes potenciais para o Brasil, mas tudo depende de nossa competência para avançar em um cenário de oportunidades na melhoria e aperfeiçoamento da cidadania e governança.
Jorge Francisconi é arquiteto pela FAU/UFRGS, Master in Regional Planning – MRP e PhD em Ciências Sociais pela Maxwell School of Public Administration and Citizenship da Syracuse University, com ênfase em Economia Urbana, Planejamento Regional e Regiões Metropolitanas