Lua (outra vez), troféu da nova corrida espacial

Lua
Cratera Clavius na Lua – imagem: NASA/USGS

Décadas depois do legendário Programa Apollo, que levou o homem a pousar na Lua em 1969, nosso satélite torna-se novamente alvo de uma corrida espacial. Agora, não mais entre os Estados Unidos e a URSS, como nos anos 60, mas envolvendo os EUA e a China. Essa corrida tem ficado cada vez mais acirrada e os próximos dois anos deverão ser cruciais para determinar quem leva o prêmio.

Pelo menos é o que diz em entrevista ao site Politico o administrador da NASA, Bill Nelson, alertando que os chineses podem estabelecer uma posição para tentar dominar os locais mais ricos em recursos na superfície lunar – e até mesmo manter os EUA fora dessas áreas. “É um fato. Estamos em uma corrida espacial”. E é melhor tomar cuidado para que eles não cheguem a um lugar na lua sob o disfarce de pesquisa científica. Não é impossível que eles digam: ‘Fique longe, estamos aqui, este é o nosso território.'”, admite na entrevista o ex-astronauta e ex-senador pela Flórida.

Nelson cita um exemplo terrestre no Mar da China Meridional, onde os militares chineses estabeleceram bases em ilhas contestadas. “Se você duvida disso, veja o que eles fizeram com as Ilhas Spratly”, diz referindo-se ao arquipélago ao Sul da China disputado por China, Taywan, Brunei, Malásia, Vietnam e Filipinas.

Os comentários de Nelson aconteceram logo após a missão de 26 dias da Artemis I, da NASA, pela qual uma cápsula espacial Orion não tripulada voou ao redor da lua. Considerada um sucesso, a missão foi o primeiro grande passo em direção ao plano de levar novamente astronautas para a superfície lunar e montar uma base permanente no satélite – o que pode acontecer já em 2025.

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Orçamento para isso já existe. O Congresso americano aprovou os gastos da agência garantindo o essencial para as próximas duas missões lunares, Artemis II e Artemis III. Feliz com os mais de US$ 24 bilhões (aumento de 5% em relação ao ano passado) para a NASA, este ano, Nelson acredita que a Artemis II, cuja missão é enviar uma tripulação para a órbita da Lua, pode acontecer “dentro de dois anos” e até ser acelerada. Em seguida, vem a Artemis III, com o objetivo de pousar astronautas na lua até o final de 2025, um ano depois do plano idealizado no governo Trump.

Do outro lado do planeta, a China revela um programa espacial cada vez maior, incluindo a recente abertura de uma nova estação espacial, e que também prevê o pouso de taikonautas na lua até o final desta década. Assim, qualquer atraso ou problema no programa dos EUA, pode significar ficar para trás nesta corrida espacial.

O risco é que o projeto Artemis, do qual o Brasil é um dos 12 países participantes, conta com uma série de novos sistemas e equipamentos ainda em desenvolvimento. Nelson mostra-se preocupado com a China também ganhando terreno – e de olho em alguns dos mesmos locais para seus pousos na lua, sobretudo os pontos do pólo sul onde o projeto Artemis irá coletar água lunar e outros recursos.

Lua pode levar à cooperação entre os dois países

Enquanto isso, os chineses têm lançado uma série de módulos de pouso e rovers robóticos para coletar amostras lunares – inclusive do lado oculto da lua –, sem falar no orbitador, módulo de aterrissagem e rover que chegaram a Marte.

Um relatório recente do Pentágono destacou uma série de conquistas do programa espacial chinês. Além de citar a proeza pioneira da China em pousar no outro lado da lua, ressalta a capacidade de estabelecer um retransmissor de comunicações usando um satélite lançado no ano anterior entre a Terra e a lua. O documento também revela que a China está melhorando seu poder para fabricar sistemas de lançamento espacial para exploração do espaço profundo.

Os militares dos EUA também expressaram preocupações com o desenvolvimento de sistemas espaciais de Pequim: “É perfeitamente possível que eles possam nos alcançar e nos superar, com certeza. O progresso que eles fizeram foi impressionante – incrivelmente rápido”, disse a tenente-general da Força Espacial Nina Armagno, em dezembro, durante uma visita à Austrália, logo após o lançamento da 10ª tripulação chinesa para a estação espacial Shenzhou.

Além da questão política levantada por especialistas dos EUA, há outras preocupações em relação ao avanço chinês nessa nova corrida espacial. Terry Virts, ex-comandante da Estação Espacial Internacional e Ônibus Espacial e coronel aposentado da Força Aérea, acredita que existem ameaças práticas também: “Se eles instalarem uma infraestrutura lá, existe a possibilidade de negarem as comunicações, por exemplo. Tê-los lá não torna as coisas mais fáceis. Há uma preocupação real com a intromissão chinesa”.

Pequim, no entanto, diz que esses sustenta que tais temores são infundados. “Algumas autoridades dos EUA falaram de forma irresponsável para deturpar os esforços espaciais normais e legítimos da China”, diz em comunicado Liu Pengyu, porta-voz da Embaixada da China em Washington, em um comunicado. “O espaço sideral não é um campo de luta. A exploração e usos pacíficos do espaço sideral é um esforço comum da humanidade e deve beneficiar a todos. A China sempre defende o uso pacífico do espaço sideral, se opõe ao armamento e à corrida armamentista no espaço sideral e trabalha ativamente para construir uma comunidade com um futuro compartilhado para a humanidade no domínio espacial”, prossegue o comunicado.

Mas, mesmo nos EUA, há quem não acredite que possa haver uma escaramuça na Lua entre os dois países. Embora reconheça que pode haver uma disputa entre os dois países por locais de pouso e recursos lunares, Victoria Samson, diretora da Washington da Secure World Foundation, dedicada ao uso pacífico do espaço sideral, tem dúvidas. Ela chama a atenção para o fato de a China, como os Estados Unidos, ser signatária do Tratado do Espaço Sideral, que proíbe as nações de reivindicar territórios em qualquer corpo celeste, incluindo a lua.

Ela também ressalta que é difícil para qualquer nação manter uma presença humana constante no espaço profundo. “Isso parece irreal. Vai ser extremamente desafiador”, diz, acreditando mais que as condições extremas do nosso satélite podem levar à situação oposta: a cooperação, “devido à possibilidade de pousar perto um do outro ou de fornecer serviços de emergência a astronautas ou taikonautas”.

Fonte: Politico

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