Luiz Ugeda: “O Braguil e os braguileiros”

Imagem: Viktor Levit – Pixabay

Em artigo publicado no Diário de Notícias, o advogado e geógrafo Luiz Ugeda, fundador do Geocracia, fala sobre os resultados dos Censos 2021, em Portugal. Os números mostram que, Braga, com seus 200 mil habitantes, é o único dos 10 maiores concelhos do país que, na última década, apresentou crescimento populacional. A explicação para a resolução de um problema que afeta muitas regiões europeias, sobretudo em países com a população envelhecida, pode ser a receptiva política de imigração da cidade.

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É muito curioso perceber como a dinâmica geográfica e estatística portuguesa está a evoluir. O Censos 2021 mostra um Portugal diferente, com Braga a ser o único concelho que cresce na última década entre os dez maiores. É uma cidade com quase 200 mil habitantes, uma Fafe a mais que Coimbra. No inverno demográfico vivido por Portugal, muito se pergunta sobre o que Braga fez de diferente.

Braga é uma cidade plural que contempla mais de 150 nacionalidades, mas uma em especial se destaca. Por serem os mais numerosos imigrantes em Portugal, é fácil encontrar patrícios ao apanhar um Uber, comprar frutas tropicais, farinha de tapioca, um bom açaí preparado localmente ou mesmo “esbarrar” com diversos profissionais liberais da Medicina, do Direito ou de TI com os diversos acentos regionais brasileiros. Tudo isso é possível de se identificar em outros sítios, mas cá a proporção é muito maior.

O Brasil é um caso curioso por viver em diáspora no auge de seu verão demográfico. Perdeu-se boa parte de uma geração em idade laboral em um país que já não tem tantos jovens, mas ainda não possui tantos idosos. Quando o Brasil tinha tudo para dar certo, com a força de trabalho pronta para alavancar a economia, as escolhas foram as piores possíveis, independentemente do espetro político a ser analisado. Dos três milhões de brasileiros ao redor do mundo (uma estimativa conservadora), cerca de 6% optaram por Portugal, um percentual baixo para o Brasil. E esse percentual está, inclusive, atrás de destinos menos óbvios, como o Japão e o Paraguai, estatística esta liderada pelos Estados Unidos, que acolhem praticamente metade dessa diáspora.

Pode-se dizer que Braga encantou pela empatia. Consciente, ou não, percebeu-se que a diáspora brasileira de profissionais de todos os perfis era uma possibilidade de acolhimento. Em uma cidade que já comemora o Carnaval com bloco brasileiro e colocou ecrã em praça pública para ver a final entre Flamengo e River Plate, na Libertadores da América de 2019, a sensação que fica é que o fim da pandemia descortinará um mundo de possibilidades dessa renovada conexão entre os países.

A opção por receber mais brasileiros neste momento histórico pode fazer outras localidades refletirem se não seria esse um bom movimento. Para aqueles refratários a este novo capítulo da relação Portugal-Brasil, que não são poucos, os brasileiros podem ser acusados de elevarem os valores dos imóveis. Todavia, pode-se argumentar que essa elevação não se deu de forma especulativa, como ocorre geralmente com os Golden Visa, em Lisboa e Porto. Os investidores estão majoritariamente na cidade, ajudando a fomentar a economia local e regional, muitas vezes com vencimentos trazidos do exterior.

Braga invoca um protagonismo na narrativa da longeva relação luso-brasileira. Mostra que é possível acolher brasileiros, gerar riqueza e prosperidade com essa característica invulgar da diáspora do Brasil neste início de século. Se Braga é um exemplo, como cogita-se, cabem às demais autarquias, e a Portugal, decidirem se desejam aumentar o percentual de acolhimento da diáspora brasileira. O alargamento da mobilidade entre países da CPLP, com o reconhecimento de diplomas, certamente seria um enorme contributo para o avanço deste cenário.

Para Ricardo Rio, autarca de Braga que cunhou a expressão “Braguil”, em 24 de outubro de 2018, na antessala da eleição de Bolsonaro, Braga será sempre acolhedora. A relação entre Portugal e Brasil sempre foi pendular. Em algum momento, será natural que esse fluxo diminua abruptamente com uma retomada económica do Brasil. Enquanto isso, que possamos nos redescobrir e celebrar a pujança de nossas possibilidades.

Luiz Ugeda é braguilense, doutor em Geografia (Universidade de Brasília), doutoramento em Direito (Universidade de Coimbra) e CEO da Geodireito.

Fonte: Diário de Notícias

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