Mapas mostram regiões que eram petistas e se tornaram bolsonaristas

petistas e bolsonaristas
Roraima: municípios petistas, em 2002, tornaram-se bolsonaristas, em 2018.

Luiz Ugeda*

Em um país altamente polarizado, em que muitas vezes somos forçados a escolher um lado, há um relevante grupo que virou a casaca e pode definir as próximas eleições. Por que quem votou em Lula em 2002, votou em Bolsonaro em 2018? Onde estão esses eleitores? Para identificá-los, a Geografia do Voto, ferramenta desenvolvida pelo Estadão e pela Geocracia, possibilita compararmos os votos em 1º turno (quando havia mais que duas opções na urna) das duas primeiras eleições presidenciais vencidas pelos dois candidatos.

Há estados que, praticamente, alteraram totalmente seu perfil de votação. Isso aconteceu com Roraima, por exemplo. Em 2002, o Estado deu a vitória a Lula em todas as zonas eleitorais; em 2018, os votos migraram para Jair Bolsonaro, que venceu no estado com mais que o tripo da votação de Fernando Haddad. No estado que mais sofreu com o efeito dos refugiados venezuelanos, a exceção foi feita aos municípios de Uiramutã e Normandia, onde se localiza a reserva indígena Raposa-Serra do Sol.

Acre: áreas bolsonaristas, em 2018, tiveram vitória mais significativas que as petistas, em 2002.

Já o Acre, que vivencia uma importante mudança no perfil da agricultura, da produção das seringueiras para a pecuária, mostra com clareza que as áreas próximas aos principais centros urbanos, como Rio Branco e Cruzeiro do Sul, nos extremos do estado, migraram fortemente para a direita. Lá, Bolsonaro obteve mais que o triplo de Haddad em 2018, enquanto Lula, em 2002, tinha conseguido mais que o dobro de José Serra.

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Regiões economicamente mais desenvolvidas, mas que também sofreram grandes transformações nas últimas décadas, o triângulo mineiro e o oeste gaúcho, passaram pelo mesmo fenômeno. Nesses locais, a população claramente deixou de votar na esquerda e passou a dar seu voto para a direita, já no primeiro turno.

No triângulo mineiro, voto também trocou de mãos entre petistas e bolsonaristas.

Se em Araguari (MG), Lula obteve 43% dos votos válidos em 2002, e Dilma conseguiu 44,6% em 2010, Bolsonaro chegou a mais de 60% dos votos no primeiro turno, em 2018. Em Uberlândia (MG), tivemos 56,7% para Dilma, em 2010, e 53,8% para Bolsonaro, em 2018.

Em Uruguaiana (RS), 59,13% para Bolsonaro, que também ganhou na terra de Getúlio e de Jango, São Borja (RS), com 42,67% dos votos.

O Nordeste, por sua vez, traz alguns ensinamentos contrários. Enquanto a eleição de 2002 foi mais heterogênea, com José Serra prevalecendo no agreste e em boa parte do sertão – chegando a ganhar inclusive em cidades vizinhas a Garanhuns, terra natal de Lula –, em 2018, a esquerda foi hegemônica em praticamente todo o estado, enquanto Bolsonaro prevaleceu, com margem pequena de votos, na Grande Recife.

Os mapas comprovam que quem votou na esquerda vota na direita e vice-versa. As eleições deste ano mostrarão um novo capítulo desta história. O Brasil de 2022 traz poucas semelhanças com o de 2002. Se o Censo de 2022 estivesse pronto, certamente mostraria, por exemplo, um país mais evangélico, um interior mais próspero e uma população com 36 milhões de habitantes a mais. As pesquisas de intenção de voto apontam que os eleitores virarão a casaca novamente. Se isso, de fato, ocorrer, será uma mudança abrupta na geografia do voto brasileira, fazendo que os territórios mudem para a esquerda em quatro anos o que levaram 16 para virar à direita.

Luiz Ugeda é advogado e geógrafo, pós-doutor em Direito (UFMG), doutor em Geografia (UnB) e fundador do Geocracia. Semanalmente, publica artigos no Blog do Geografia do Voto, no Estadão.

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