“Maranhão é bola da vez como hub logístico e espacial”

Maranhão
José Reinaldo Tavares, secretário de Programas Estratégicos do Maranhão (arquivo pessoal)

No momento em que Elon Musk promete conectar a Amazônia com a constelação de satélites Starlink, o Maranhão quer aproveitar a corrida espacial para ser o principal nó logístico não só nos acessos à América do Norte, à Europa à Ásia, mas também ao espaço. Essa, pelo menos é a visão de José Reinaldo Tavares, secretário de Programas Estratégicos e Desenvolvimento Econômico do Estado. Em entrevista ao Geocracia, Tavares diz que, após muito trabalho de articulação para aprovar o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas com os EUA, a Base de Alcântara se prepara para receber três empresas americanas e duas canadenses, que deverão começar a operar no Centro de Lançamentos: “Os projetos do mundo inteiro virão para cá. Seja dos EUA, Canadá ou Coreia, mas também das empresas que aqui se estabelecerem. Já estão agendados mais de 50 lançamentos para o Centro Espacial de Alcântara nos próximos quatro anos!”, afirma o secretário, que foi ministro dos Transportes, na década de 1980, durante o governo do ex-presidente José Sarney.

Tavares fala ainda dos projetos logísticos que aproveitam a posição geográfica do Estado, infraestruturas existentes, como a Ferrovia Norte-Sul, e investimentos em dois novos portos.

Veja a entrevista na íntegra a seguir.

São Luís tem tudo para se tornar o grande nó logístico brasileiro. Tem um dos principais portos do país interconectado com a ferrovia Norte-Sul, um aeroporto que precisa de muitos investimentos e a base aeroespacial de Alcântara. O que falta para tornar esta visão uma realidade?

A Ferrovia Norte Sul foi uma luta minha e do ex-presidente José Sarney, que hoje se mostra imprescindível para o Brasil. Éramos um dos poucos países com grandes territórios do mundo que não tinha logística passando pelo seu interior. Se você observar, verá que houve um enorme aumento de movimento via Porto do Itaqui nos últimos 10 anos. Por quê? Ora, São Luís está mais próximo dos grandes mercados consumidores: Estados Unidos, Europa e Ásia. Era mais do que esperada essa mudança. Agora, o Brasil tem um compromisso histórico com o setor espacial. Nós conseguimos, com muito trabalho de articulação e engenharia política, aprovar o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas com os EUA, o que garante a preservação da propriedade intelectual dos dois países. Como consequência, três empresas americanas (Hyperion, Orion AST, Virgin Orbit) e uma canadense (C6 Launch) devem operar no Centro Espacial.

Em recente entrevista ao Geocracia, o coronel Carlos Moura, presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), disse que o Centro de Lançamento de Alcântara está pronto para se inserir no mercado internacional de lançamentos espaciais. E o Maranhão? Está pronto para aproveitar essa oportunidade incentivando um ecossistema de startups que suporte este desenvolvimento local?

O Maranhão é a bola de vez! Será o maior hub do Brasil, tanto em logística portuária quanto ferroviária. E será o grande hub espacial. Estamos trabalhando, com a orientação do Governador Carlos Brandão, para que Alcântara não seja só uma belíssima cidade histórica e litorânea do Brasil. Mas que ela seja a grande fronteira espacial do Brasil. Os projetos do mundo inteiro virão para cá. Seja dos EUA, Canadá ou Coreia, mas também das empresas que aqui se estabelecerem. Já estão agendados mais de 50 lançamentos para o Centro Espacial de Alcântara nos próximos quatro anos!

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Muito se fala, fora do Maranhão, sobre entraves quilombolas para o pleno desenvolvimento do Centro Espacial de Alcântara. Como foi o Programa de Desenvolvimento Integrado (PDI-CEA) e que avanços podem ser citados em termos de preparação do tecido econômico maranhense para o boom geoespacial?

O Maranhão se preparou muito para este momento. Não só em termos socioeconômicos, mas para que o Brasil tenha estrutura para suportar os investimentos e que eles fiquem em boa parte em território brasileiro. Criamos, na Universidade Federal do Maranhão, o primeiro curso de engenharia aeroespacial acima de Brasília! Imagina: tínhamos o Centro de Lançamento de Alcântara e o Centro de Lançamento da Barreira do Inferno, no Rio Grande do Norte, mas não tínhamos curso na área. Um absurdo. Também aprovamos um mestrado conjunto do Maranhão com o Rio Grande do Norte e Pernambuco para termos gente de grande capacidade nessa parte importante do território nacional. Também, a FIEMA articulou amplos setores do Maranhão, já que essa entidade conduziu o PDI-CEA no Estado, para que estivéssemos preparados para o grande desafio. Estamos agora articulando a infraestrutura necessária para aqueles que vão trabalhar em Alcântara: porto, restaurantes e toda forma de apoio para o trabalho ter todo o sucesso!

A Embrapa Territorial tem feito um esforço para o desenvolvimento do Matopiba, região de expansão agrícola que envolve o Maranhão, o Piauí, o Tocantins e o oeste baiano. Como São Luís, enquanto nó logístico, tem buscado se posicionar perante esta realidade agrária, para além da tradicional minerária, e qual será o papel da região de Imperatriz?

A fronteira da hinterlândia – que é a área de influência – do Porto do Itaqui se entende hoje até os limites do Mato Grosso. Mas em 2025 será até a fronteira com a Bolívia. As empresas perceberam o que dissemos antes: a bola da vez é o Maranhão. Teremos um novo porto feito pela Cosan; o Porto de São Luís, para minério de ferro, assim como foi autorizado o Porto de Alcântara, que será o porto público com maior profundidade do Brasil. Imperatriz tem um porto seco para garantir a logística de transporte de grãos, combustíveis e outros bens por ali.

Em um exercício de projeção futura, como o Censo de 2040 deverá apresentar o Maranhão comparado com os anteriores? A vantagem logística terá força para transformar a realidade em comparação com outras regiões do país?

O Governador Carlos Brandão vislumbrou e orientou sua equipe para traçar um plano de dobrar o PIB a cada década nos próximos anos. Isso assentado no trabalho do ex-Governador Flávio Dino de investimentos pesados em educação fundamental, ensino médio e profissional. A logística vai se aliar à capacidade de pensar e construir do povo do Maranhão. E não somos nós que estamos dizendo: os números demonstram que estamos crescendo de forma consistente.

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