O acompanhamento das formações rochosas dos cânions de Capitólio (MG) por geólogos e engenheiros teria evitado a tragédia deste fim de semana, que matou oito pessoas e deixou mais de 30 feridos. A opinião é de geólogos, sismólogos e especialistas em geociências ouvidos pela imprensa nos últimos dias. Motivo e tempo hábil houve para que estudos fossem feitos, pois, há 10 anos, um turista – o médico Flávio Freitas, de Ilhabela (SP) – já percebera o perigo da rachadura de alto a baixo na gigantesca rocha que, devido às fortes chuvas, se desprendeu do paredão para cima de lanchas e banhistas.
Segundo a geóloga da Universidade Federal de Goiás (UFGO) e doutora em mapeamento geológico, Joana Sanches, ouvida pela CNN, o local é de risco geológico e deveria ter sido fechado ao turismo até que se fizesse uma intervenção de técnicos capacitados e uma análise mais precisa dos riscos no local: “Essa fratura ia desde o topo até a base e [é preenchida] pelo solo. Com a intensidade das chuvas, esse solo foi lavado e levado embora. Além disso, a água ajudou a fazer mais peso dentro da fratura. Como já estava previamente deslocado do paredão rochoso, com a intensidade dessas chuvas, o pedaço se deslocou por completo”.
Já o professor George Sand França, do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília, disse ao Correio Braziliense que era possível prever esse desmoronamento, da mesma maneira como se monitoram vulcões: “Como você sabe que vai entrar em erupção? Pelo monitoramento. É uma questão característica e poderia ter sido previsto o desastre, mas, como não tem monitoramento constante, é difícil detectar quando iria acontecer”.
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Algumas das medidas possíveis, no caso de Capitólio, apontadas pelos especialistas, já que o risco de desabamento era evidente há pelo menos 10 anos, seria a realização de um trabalho de geotécnica para a derrubada controlada do pedaço de rocha. Outra solução seria usar tirantes de aço para prender a formação geológica, evitando o deslizamento.
Turistas afastados
Mas em um ponto todos concordam: com uma fratura tão evidente e conhecida há tanto tempo, a área não poderia estar liberada a turistas. “O Brasil explora muito o seu turismo em locais de interesse geológico, somos muito ricos nisso. Os laudos geológicos e geotécnicos, que caracterizam se um local é ou não de risco, precisam ser encaminhados e ter o suporte das autoridades. É necessário também que os órgãos públicos aumentem a elaboração desses laudos para ampliar a percepção de risco da população e da própria equipe de agência de turismo que executam”, afirma Ingrid Ferreira, PhD em geociências e consultora em Gestão de Riscos de Desastres.
Para George França, a pior característica do acidente é deixar acontecer primeiro para agir depois. “A gente é um país que enfrenta a desgraça e depois vai atrás do prejuízo, como aconteceu na barragem de Brumadinho (MG). Os grandes cânions precisam ser monitorados por uma equipe específica”, ressalta, criticando a proximidade dos barcos do paredão rochoso: “era um perigo constante”.
Fonte CNN e Correio Braziliense