O fator Ciro Gomes: fenômeno cearense ou 3ª via nacional?

Ciro Gomes
Votação de Ciro Gomes nas Presidenciais de 2002 (8,8% dos votos nacionais) – imagem: Geografia do Voto (reprodução)

Luiz Ugeda*

As eleições começaram oficialmente esta semana, com quase todos os olhares voltados para Lula e Bolsonaro. Quase todos. Ciro Gomes, uma das alternativas para uma possível terceira via, foi ao programa Roda Viva, falou sobre seus eventuais destemperos e sobre a possível eleição de Lula corresponder ao “maior estelionato eleitoral” do planeta.

Mas quem Ciro representa?

O ex-governador do Ceará e ex-ministro concorreu a três eleições presidenciais, 1998, 2002 e 2018. Se usarmos a ferramenta Geografia do Voto, parceria entre o Estadão e a Agência Geocracia, para olharmos as últimas duas, vemos que sua evolução eleitoral é quase o resultado matemático de uma regra de três simples. Se, em 2002, Ciro Gomes teve 10,1 milhões de votos em 115 milhões possíveis; em 2018, teve 13,3 milhões em 147 milhões possíveis. Ou seja, em 16 anos, ele praticamente andou de lado, de 8,8% para 9% dos votos nacionais.

Nas duas eleições, para cada seis votos que recebeu, um foi cearense. A trajetória eleitoral de Ciro diz muito sobre a evolução do Ceará como motor econômico do Nordeste – basicamente, pela progressão populacional acima da média regional e pelo incremento econômico estadual fomentado pelas energias eólica e solar.

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Ao analisarmos os mapas, fica clara a concentração de votos de Ciro no Ceará. Se, em 2002, ele teve uma votação expressiva no Maranhão e Amazonas (sob a ótica proporcional), em 2018, sua base eleitoral ficou altamente concentrada no Ceará, estado que o Censo 2022 deve apontar como um dos que mais viu o aumento de renda dsa famílias, reflexo do crescimento econômico cearense nos últimos 12 anos.

Votação de Ciro Gomes nas Presidenciais de 2018 (9% dos votos nacionais) – imagem: Geografia do Voto (reprodução)

Se o cenário cada vez mais provável de eleição polarizada se confirmar e a tal terceira via não decolar, uma boa pista para estimar a votação de Ciro Gomes, em outubro, é aplicar novamente a regra de três para 2022, mesmo sem os valiosos resultados do Censo deste ano e considerando o avanço econômico proporcional (estimado) do Ceará no contexto nacional. Por essa conta, ele deverá ter cerca de 14,2 milhões de votos para os mais de 156 milhões de eleitores registrados para o pleito deste ano.

E, na hipótese de um segundo turno sem sua presença, ainda é uma incógnita o que fará Ciro. Em 2018, sua partida para Paris após o primeiro turno esvaziou os apoios para a campanha de Fernando Haddad, abrindo ainda mais a ferida com os petistas. Há, no entanto, quem cogite que ele poderia desistir de sua candidatura às vésperas das eleições para apoiar Lula, aliado de tempos longínquos e que ainda almeja uma vitória no primeiro turno – algo que Lula não conseguiu nem em seus melhores dias.

Mas, a se confirmar a provável repetição da concentração no Ceará dos votos de Ciro Gomes, isso retratará muito mais a ascensão de Fortaleza como o principal pólo econômico nordestino –dado que deverá estar retratado no Censo 2022 –, do que necessariamente a representação de um projeto político nacional. A conferir.

Luiz Ugeda é advogado e geógrafo, pós-doutor em Direito (UFMG), doutor em Geografia (UnB) e fundador do Geocracia. Semanalmente, publica artigos no Blog do Geografia do Voto, no Estadão.

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