O fator Tarcísio e o voto conservador em São Paulo

voto conservador
Zona eleitoral de Indianápolis, historicamente o voto mais conservador da cidade de São Paulo.

Em artigo publicado nesta quarta-feira no Blog Geografia do Voto no Estadão, o advogado e geógrafo Luiz Ugeda, CEO do Geocracia, mostra a história do voto conservador em São Paulo. Pela primeira vez em muitos anos, a Direita se apresenta com um candidato “raiz” ao governo do Estado, o ex-ministro Tarcísio de Freitas. Como irá se comportar o eleitorado conservador paulista, que já se aliou ao PSDB para derrotar o PT e não tem uma candidatura própria desde Paulo Maluf.

Ugeda fez suas análises usando a ferramenta Geografia do Voto, ferramenta desenvolvida pela Agência Geocracia e pelo Estadão e que georreferencia 5 bilhões de votos do banco de dados do Tribunal Superior Eleitoral desde 1996, em todos os níveis de candidaturas e por recorte mínimo de zona eleitoral.

Acompanhe o artigo a seguir.

Luiz Ugeda*

O modo como os eleitores avaliam candidatos e tomam a decisão em quem votar depende de diversos aspectos econômicos, sociológicos, psicológicos, religiosos, enfim, variáveis que, ponderadas, trazem um resultado bastante concreto.

O comportamento eleitoral se expressa pelo voto, que é dado em um determinado local, apontando como aquela zona eleitoral se delineia. Sob este conceito, pode-se afirmar que existem determinadas localidades que são mais conservadoras ou mais progressistas.

Ao analisarmos as eleições estaduais paulistas, o PSDB tem sido hegemônico e, historicamente, se posicionado à direita do PT. Exceção feita quando Maluf era candidato, situação que provocava um alinhamento do PSDB com a esquerda. Desde 2006, há um alinhamento do PSDB com a direita, ao menos em quatro eleições: Vitória de Serra sobre Mercadante (2006, 1º turno); Alckmin sobre Mercadante (2010, 1º turno); Alckmin sobre Padilha (2014, 1º turno); e os dois turnos entre Dória sobre Márcio França (2018, 1º e 2º turno).

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Em que pese ter havido candidaturas à direita nestas eleições, nenhuma inspirou tantos potenciais eleitores quanto Tarcísio de Freitas (REPUBLICANOS). Em segundo lugar nas principais pesquisas de intenção de voto, sua presença muda a geografia do voto no estado por trazer um elemento que não se via desde o Maluf: uma candidatura competitiva mais à direita.

E isso traz uma pergunta interessante: quais são as zonas eleitorais conservadoras em São Paulo propensas a dar seu voto para este novo ator no cenário estadual? Ou será que elas vão preferir manter seu voto no PSDB que tem Rodrigo Garcia como candidato à reeleição , preferindo dar continuidade ao atual projeto de poder?

Para tanto, é necessário perceber, em dois cenários distintos, quais zonas deram ampla vitória ao candidato Paulo Maluf, em 1998, e a João Dória, em 2018. Independente do fato de serem de direita ou não, é certo que eles estavam à direita em relação a seus oponentes, Mário Covas e Márcio França, respectivamente.

Os resultados são reveladores. Municípios da região de Bragança Paulista, como Joanópolis (65,5% em Maluf; 69,3% em João Dória), ou mesmo do Vale do Ribeira, como Capão Bonito (59% em Maluf; 61,3% em Dória), se destacam como exemplos de conservadorismo.

Em 1998, um derrotado Paulo Maluf teve em Joanópolis um importante reduto de voto conservador.

Há ainda exemplos de mudança abrupta de pólo, como a observada no Pontal do Paranapanema, onde Maluf teve um grande percentual de votos (p. ex, 67,3% em Rosana e 72,5% em Teodoro Sampaio) e que passaram a votar majoritariamente na esquerda, representada em 2018 por Márcio França (56,3% em Rosana e 69,6% em Teodoro Sampaio).

Na cidade de São Paulo, a zona eleitoral 258, que envolve o polígono Marginal Pinheiros – Av. Hélio Pelegrino – Av. José Maria Whitaker – Av. Pedro Bueno – Av. Prof. Vicente Rao – Marginal Pinheiros (com centro de gravidade na av. Indianápolis), pode ser considerada a mais conservadora da capital. Embora tenha dado ampla vitória a Covas em 1998 (61,5% dos votos no 2º turno), houve uma aderência total ao polo mais à direita nas eleições seguintes (1º. turno de 2006, 78% com Serra; 1º. Turno de 2010, 74,6% com Alckmin; 1º. Turno de 2014, 73,3% com Alckmin, e 2º. Turno de 2018, 66% com Doria). O primeiro turno das eleições de 2022 para governador de São Paulo deverá responder o quanto este público realmente é de direita ou se trata de uma manutenção do projeto de poder do PSDB. E se Tarcísio realmente aglutinou uma direita que se empoderou ou se o voto conservador paulista é apenas garantista do atual projeto de poder do PSDB.

Luiz Ugeda é advogado e geógrafo, pós-doutor em Direito (UFMG), doutor em Geografia (UnB) e fundador do Geocracia. Semanalmente, publica artigos no Blog do Geografia do Voto, no Estadão.

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