O supercomputador que trará dados espaciais para mudar a meteorologia no Brasil

O Brasil se prepara para uma evolução na previsão climática através da aquisição de um novo supercomputador. Esse avanço vem após anos de atraso e promete melhorar a precisão das previsões meteorológicas. A máquina será instalada no Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), localizado em Cachoeira Paulista, São Paulo. O objetivo é fornecer previsões detalhadas e precisas de curto, médio e longo prazo para eventos climáticos.

Supercomputadores processam milhares de equações que determinam a intensidade de chuvas fortes ou a duração de secas. O Brasil, nos últimos anos, viu uma queda na sua capacidade de fornecer previsões precisas comparado a outros centros internacionais. Em ampla reportagem na BBC Brasil, Saulo Ribeiro de Freitas, chefe de Divisão de Modelagem Numérica do Sistema Terrestre do Inpe, afirma que essa deficiência coloca a sociedade em risco diante de eventos climáticos extremos, como ondas de calor e chuvas intensas.

O novo supercomputador substituirá os atuais, incluindo o famoso Tupã, que foi parcialmente desligado em novembro de 2023. Esses sistemas antigos já não atendem às necessidades de previsão e pesquisa meteorológica do país. A nova máquina promete uma capacidade tecnológica cinco vezes maior, permitindo ao Inpe desenvolver um modelo do sistema terrestre específico para a América do Sul. Este modelo, chamado Monan, reposicionará o Brasil na discussão global sobre mudanças climáticas, considerando as particularidades do clima sul-americano.

A precisão das previsões meteorológicas orientará investimentos públicos e evitar perdas humanas e materiais em eventos extremos. Gilvan Sampaio, coordenador-geral do Inpe, pontua a complexidade de representar todas as variáveis atmosféricas no modelo, desde fenômenos naturais até a infraestrutura urbana. O desenvolvimento do Monan envolve mais de 60 pesquisadores de quase 30 instituições, incluindo colaborações internacionais. Este esforço conjunto visa criar um modelo que leve em conta peculiaridades brasileiras, como o Pantanal, que não são bem representadas em modelos europeus ou americanos.

O avanço tecnológico do novo supercomputador permitirá previsões em alta resolução, com uma escala de 3 por 3 km, mais precisa do que os atuais 20 por 20 km. No entanto, a concretização desse projeto ainda levará anos. O desenvolvimento completo do Monan e a aquisição de todos os supercomputadores previstos ocorrerão em etapas, com o cronograma de investimentos se estendendo até 2026. Essa abordagem permitirá ao Inpe adquirir tecnologia de ponta à medida que ela evolui, garantindo que o Brasil mantenha-se competitivo no cenário internacional de previsão climática.

A falta de investimentos no passado atrasou significativamente o desenvolvimento da capacidade de previsão meteorológica do Brasil. Em 2021, o Inpe enfrentou o menor orçamento em uma década, o que quase levou ao desligamento total do Tupã. Somente em 2022, com a aprovação de um projeto de R$ 200 milhões, foi possível iniciar a aquisição do novo supercomputador. A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) liberou a primeira parcela de R$ 32 milhões para a compra da máquina, que deve chegar ao Brasil no final deste ano.

Além de modernizar a infraestrutura do CPTEC, o Inpe está investindo na melhoria da rede elétrica, do sistema de ar condicionado e na instalação de uma usina de geração de energia fotovoltaica para alimentar os supercomputadores. O custo atual de energia elétrica para o sistema é de cerca de R$ 5 milhões por ano. O desenvolvimento do Monan, por sua vez, ocorrerá em etapas, com a previsão inicial de até 15 dias, seguida por previsões mensais e sazonais, abrangendo até três meses.

A criação de uma Rede Nacional de Meteorologia é necessária para eliminar a sobreposição de atividades entre diferentes organizações e garantir uma cadeia padronizada de informações. A falta de articulação entre órgãos como o Inpe, Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam) ainda é um desafio. Além disso, o Brasil não possui seu próprio satélite estacionário, dependendo de equipamentos americanos e europeus para obter dados meteorológicos. A assinatura de um acordo com a China para o desenvolvimento de um satélite voltado para o Brasil é um passo importante para a autonomia e precisão nas previsões climáticas.

A nova infraestrutura e os avanços tecnológicos prometem posicionar o Brasil novamente como um líder em previsão climática, capaz de fornecer informações detalhadas e estratégicas para a gestão pública e a economia, além de proteger a população de eventos climáticos extremos. A modernização do CPTEC e a aquisição do novo supercomputador são passos fundamentais para garantir que o país esteja preparado para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas globais.

Com informações da BBC Brasil

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