Luiz Ugeda*
Em uma eleição altamente polarizada – o que é reconhecido pelos próprios candidatos –, há uma tendência de forte cristalização de votos. Como exemplo, na última pesquisa da Ipec (ex-Ibope) divulgada na última segunda-feira (12), 80% dos eleitores já teriam decidido em quem votar para presidente este ano. Mas o que nos sugerem os 20% dos votos que podem alterar o rumo das eleições deste ano?
A ferramenta Geografia do Voto, parceria entre Estadão e a Agência Geocracia, geoprocessou mais de 5 bilhões de votos desde 1996 e sugere que o comportamento de locais específicos pode conter a chave da compreensão do que ocorrerá em 2 de outubro, daqui pouco mais de duas semanas.
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Algumas capitais nordestinas deverão trazer um termômetro importante sobre o desempenho de Lula e Bolsonaro. O PT, que tem o voto majoritário na região Nordeste, perdeu no segundo turno em 2018 em Natal (47% x 53%), João Pessoa (45% x 55%) e em Maceió, com um significativo 38% x 62%.
Mas o voto indeciso, que deverá fazer toda a diferença nesta eleição, está no Sudeste. São Paulo tem 34,6 milhões de eleitores aptos a votar nas Eleições 2022. O maior colégio eleitoral do país fez, no 2º turno de 2018, um grande contraponto à região Nordeste, com Bolsonaro vencendo em 97,5% dos municípios. O PT acabou por o superar em localidades esparsas no território, como ocorreu nos municípios de Francisco Morato, Areias, Iaras, Mirante do Paranapanema, Itapura e Dolcinópolis.
Os indecisos de Minas, o segundo maior colégio eleitoral brasileiro, têm, segundo muitos analistas, o poder de definir esta eleição. A Geografia do Voto mostra, no entanto, que esses eleitores não representariam o estado como um todo, que mostra um certo padrão de divisão de votos por bacias hidrográficas.
A Minas que pode decidir as eleições é a que se encontra na bacia dos rios Paraíba do Sul e do Rio Doce – em outras palavras, a Minas da BR-116 (Rio-Bahia), que corta cidades como Muriaé, Teófilo Otoni e Governador Valadares. Essa região possui um perfil similar ao observado no Nordeste, com as cidades menores votando em bloco no PT e as cidades maiores pendendo para Bolsonaro. O mesmo ocorre na BR-135 mineira, com Montes Claros votando em Bolsonaro e todas as demais cidades do eixo votando em Lula.
Considerando que o Rio e o Espírito Santo têm um perfil mais próximo ao de São Paulo, mas com percentuais menores a favor de Bolsonaro, os votos indecisos que farão a diferença deverão vir de eixos específicos mineiros. Dependendo da intensidade desses votos, para um lado ou outro no 1º turno, será possível perceber com maior clareza qual a tendência do país como um todo em um provável 2º turno.
Leia este outros artigos de Luiz Ugeda no Blog Geografia do Voto.
* Luiz Ugeda é advogado e geógrafo, pós-doutor em Direito (UFMG), doutor em Geografia (UnB) e fundador do Geocracia. Semanalmente, publica artigos no Blog do Geografia do Voto, no Estadão.