Onde foi, geograficamente, o Grito do Ipiranga?

Em algum ponto dos seus mais de 160 mil m2, Parque da Independência abriga local exato do Grito do Ipiranga (imagem: Wikimedia Commons).

Por volta das 16 horas do dia 7 de setembro de 1822, após uma exaustiva subida da Serra do Mar em lombo de mulas e jumentos, um grupo de quase 40 homens descansava às margens do riacho do Ipiranga, onde hoje se situa o bairro do mesmo nome, na Zona Sul de São Paulo. Comandava-os o príncipe regente do Brasil, D. Pedro de Alcântara. Ali ele recebeu de dois cavaleiros dos Correios do Estado cartas da esposa, Maria Leopoldina, e do conselheiro do governo, José Bonifácio, informando-o da decisão do Conselho do Estado, cinco dias antes, emancipando o Brasil de Portugal. Também recebeu correspondência do pai, D. João VI, e das Cortes de Lisboa ordenando seu retorno imediato a Portugal e a prisão de Bonifácio.

Irritado, amassou e pisou os papeis de Portugal. Montou seu animal e foi em direção a uma casa (hoje Casa do Grito) onde os soldados da guarda real repousavam. Diante de uma tropa em semicírculo, parou a montaria e sacou a espada. “Amigos! Estão, para sempre, quebrados os laços que nos ligavam ao governo português!”, anunciou, enquanto arrancava e jogava ao chão a fita azul e branca de seu chapéu, que representava o Reino de Portugal. E, voltando-se mais uma vez para a comitiva em delírio, gritou: “Será nossa divisa de ora em diante: Independência ou Morte!”

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Hoje, nesse exato lugar, encontra-se o Museu do Ipiranga e o Parque da Independência, com a Casa do Grito e vários outros pontos de interesse. Mas, dentro desse grande parque de mais de 160 mil m2, onde exatamente se encontra o ponto onde D. Pedro I, montado em cavalo ou mula, bradou o famoso Grito do Ipiranga?

Essa dúvida persistiu por séculos, graças a imprecisões, informações erradas e enganos. Ao contrário do que muitos pensam, esse lugar não fica no espaço da construção do Museu, que reabre nesta quinta (08), após anos de restauração. D. Pedro subia a colina e, foi a meio caminho do topo, que irrompeu em seu corajoso gesto. O Museu foi edificado no topo da colina para dominar o espaço em volta, e o ponto exato do Grito fica a meio caminho entre a entrada do Parque (antiga ponte sobre o Ipiranga) e o Museu, próximo à Casa do Grito.

Muitos pesquisadores se debruçaram sobre essa questão, mas, usando técnicas novas de georreferenciamento e pesquisa histórica, o professor doutor da Escola Politécnica de São Paulo, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e docente titular do Museu do Ipiranga, Jorge Pimentel Cintra, demonstra que resolveu a questão.

A convite da Associação Brasileira de Engenheiros Cartógrafos – Regional São Paulo (ABEC-SP), Cintra gravou dois vídeos para a página do YouTube da entidade onde explica todo o processo utilizado para descobrir o ponto exato.

No primeiro vídeo, ele faz uma introdução sobre o evento da Independência e da Cartografia (veja acima).

No segundo, vídeo, Cintra detalha os elementos históricos daquela tarde de 7 de setembro de 1822 e as ferramentas cartográficas empregadas para descobrir o ponto exato do Grito do Ipiranga (acima).

Segundo ele, o local estaria cerca de 100 metros abaixo do que se supunha, em função de um erro cometido durante a primeira medição, no fim do século XIX. Cruzando mapas históricos com o Open Street Map e usando técnicas cartográficas, Cintra revela onde é, realmente, o local histórico do famoso gesto que nos deu a Independência.

Fonte: Alesp

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