Como guerras usam mapas para propaganda

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Feito em 1941 pelo britânico-egípcio Kimon Evan Marengo (Kem), este mapa representava as várias frentes do esforço de guerra contra Hitler. No título, “Uma a uma, suas pernas serão quebradas” (Imagem: United States Holocaust memorial Museum).

Edmilson Volpi*

Em um mundo bem diferente do atual, sem os apelos eletrônicos da telinhas e telonas, conquistar corações e mentes era uma tarefa que exigia criatividade, humor, apelo emocional e… papel. Muito papel. Estamos falando do século 20, um período da história humana marcado por inúmeros conflitos e duas guerras mundiais responsáveis por cerca de 100 milhões de mortos.

Durante esses períodos sombrios, que a atual invasão da Ucrânia nos faz reviver, as máquinas de propaganda funcionavam a todo o vapor, produzindo cartazes, folhetos e diversos outros itens de convencimento. Mas poucas coisas tinham tanta capacidade de síntese e encantamento quanto os mapas.

Há alguns anos, uma reportagem da National Geographic chamava a atenção para a War Map, uma exposição na Map House de Londres mostrando justamente essas peças de propaganda em tempos de guerra. Muito coloridas, recorrendo quase sempre à charge, esses mapas quase poderiam ser comparados aos memes dos dias atuais. Mas seus objetivos tinham pouca ou nenhuma inocência, e serviam basicamente para convencer que valia a pena dar a vida para tirar a do inimigo.

Um bom exemplo é o mapa do alto da página, mostrando a situação do cenário da guerra na Europa, em 1941. O autor, o cartunista egípcio radicado na Inglaterra Kimon Evan Marengo, era famoso na época e usava a marca Kem em seus trabalhos. No desenho, ele retrata Hitler como uma aranha estendendo seus domínios a vários pontos do continente e, em alguns deles, sendo rechaçado, como no Mediterrâneo, no norte da África e no Mar do Norte.

Outra figura muito utilizada nesses mapas-propaganda eram os polvos. No mapa abaixo, feito em 1900, a Rússia é retratada dessa maneira, com tentáculos que se espalham em várias direções, estrangulam a Polônia, a Finlândia e a China, enquanto alcançam a Turquia, o Afeganistão e a Pérsia (atual Irã). Seu criador, o cartógrafo britânico Frederick W. Rose, era, na época, o mais influente produtor dos famosos mapas sério-cômicos antropomórficos, que transformavam territórios em figuras humanas e animais. 

Frederick W. Rose, autor deste mapa, não foi o primeiro a colocar um polvo em um mapa, mas tornou-se o mais célebre dos cartógrafos antropomórficos (imagem: Universidade de Yale).

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Mas, alguns mapas são menos lúdicos. É o caso, por exemplo, de uma peça anti-bolchevique (abaixo) feita, provavelmente em 1944, quando os russos, em sua contra-ofensiva à Alemanha, começavam a tomar os países da Europa Central. Para o responsáveis da exposição na Map House, ele teria sido feito na Bulgária. Mas, para a Rare Paper Books & Ephemera, casa de Nova Iorque especializada em livros raros do Leste Europeu, o mapa seria sérvio, feito em Belgrado. Retratando cenas de horror e recorrendo a fotos, ele é encimado pelos dizeres “Isso é o que a Europa pode esperar do Bolchevismo!”. Possuir uma peça dessas logo após a chegada dos russos era assinar sua sentença de morte.

Mapa provavelmente feito na Sérvia, em 1944, retrata cenas de horror alertando a Europa para o que aconteceria caso os bolcheviques tomassem o continente (Rare Paper Books & Ephemera – reprodução).

Os aliados também eram alvo, sobretudo nos mapas feitos pela forte propaganda nazista. É o caso da peça abaixo. Feita pela unidade de propaganda alemã na França ocupada e assinada pelo artista francês Jean Fort, ela retrata o presidente americano Franklin Roosevelt e o primeiro-ministro britânico Winston Churchill se engalfinhando para dividir a África.

Imagem: Arquivos Municipais de Cholet – França (reprodução)

Leia a matéria original na National Geographic aqui (em inglês), e a tradução no Curiosidades Cartográficas.

* Edmilson M. Volpi é engenheiro Cartógrafo e editor da página Curiosidades Cartográficas no Facebook Instagram

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