O governo do Paraná anunciou um investimento de R$ 4,2 milhões para desenvolver aplicações civis com base em dados espaciais, por meio do Napi Space — um arranjo de pesquisa e inovação coordenado pela Fundação Araucária e pela Secretaria de Inovação. A iniciativa, que conta ainda com R$ 1 milhão da cooperativa agrícola Coamo, busca aplicar informações obtidas por satélites em setores como agricultura, gestão hídrica e monitoramento ambiental. A proposta mira o chamado segmento downstream, que representa mais da metade do faturamento global da indústria espacial.
A estratégia paranaense não envolve lançamentos de satélites nem estruturas aeroespaciais próprias. O objetivo é explorar dados já disponíveis, públicos ou privados, para gerar soluções locais. No campo, isso pode significar maior controle sobre irrigação, planejamento de plantio e logística, com potencial de reduzir perdas e custos. Órgãos como o Simepar também poderão usar essas informações para acompanhamento da qualidade da água e de reservatórios.
Especialistas apontam que o downstream é justamente a parte mais acessível e com impacto direto na vida cotidiana. “Esses serviços já são parte do cotidiano de setores como agricultura, logística e planejamento urbano”, observa Lucas Pleney, da consultoria Novaspace. Ainda assim, o desafio está em transformar dados brutos em aplicações úteis, o que depende tanto de infraestrutura técnica quanto de articulação entre universidades, empresas e órgãos públicos.
Além de instituições estaduais como a UEL, UTFPR e o Instituto Federal do Paraná, o projeto envolve o Senai e a Secretaria de Ciência e Tecnologia. Há também previsão de abordagens jurídicas sobre o setor espacial, indicando uma tentativa de formar massa crítica local. A iniciativa ocorre num momento em que estados buscam alternativas para diversificar suas economias — e o uso de dados espaciais, embora menos visível que o lançamento de foguetes, pode representar um caminho mais viável e de retorno gradual.

