Parceria Estadão-Geocracia é reconhecimento ao valor da geoinformação

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Luiz Ugeda, CEO do Geocracia

“É louvável a sensibilidade do jornal em perceber que transformar em mapas e em geoinformação os dados do TSE, mesmo que incompletos por limitações nos dados dos próprios tribunais regionais eleitorais, era uma informação fundamental que precisava ser acessada pelo público”. Assim, o CEO do Geocracia, o advogado e geógrafo Luiz Ugeda, comemora o lançamento do Geografia do Voto, nesta quarta-feira (22).

Parceria Estadão-Geocracia, o Geografia do Voto apresenta uma ferramenta desenvolvida pelo Geocracia que reúne 5 bilhões de votos disponibilizados em metadados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), desde 1996, e os apresenta de uma forma georreferenciada por município ou zona eleitoral, com mapas em gradação de cores, sempre comparando dois candidatos ao mesmo cargo.

O Geografia do Voto poderá ser acessado por qualquer um que queira montar as suas simulações, pesquisar cenários ou mesmo investigar o passado eleitoral de algum lugar específico. Semanalmente, o espaço contará ainda com a análises de Luiz Ugeda sobre as potencialidades da ferramenta e dados que podem ser garimpados com ela.

Nessa entrevista sobre o lançamento do Geografia do Voto, Ugeda afirma que o projeto, que se vale de metadados públicos abertos para construir uma plataforma acessível, amigável e intuitiva, é uma contribuição para democracia. E exalta o pioneirismo do Estadão: “Seu interesse em disponibilizar a ferramenta a seu público apenas renova sua vanguarda no jornalismo de dados. É uma honra fazermos parte deste processo enquanto criadores da ideia”, diz.

Acompanhe a entrevista na íntegra.

De onde veio a inspiração para se montar essa base de dados eleitoral e por que a ideia central de privilegiar os confrontos diretos entre candidatos?

Mapa é uma ferramenta política das mais importantes. Perceber qual território votou em quem diz muito sobre aquele território. A ideia de montar a base de dados com confronto direto entre os candidatos foi uma forma de representar, em algoritmo, no que o Brasil se transformou: uma disputa política praticamente binária. Possibilitar ao cidadão comum manusear mapas políticos de forma simples e fazer as simulações que quiser soava como algo inovador, uma ideia sedutora nesse ambiente polarizado. Analisar fatos ao invés da versão, mãe da fake news, é um serviço público de informação.

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Historicamente e por todo o mundo, as eleições sempre são acompanhadas por grandes mapas nas telas das TVs mostrando-se os vencedores regionais e as construções das vitórias nacionais. Mas, para além desse complemento visual, qual a importância de se georreferenciar os dados eleitorais em uma base consolidada historicamente e por níveis administrativos?

Georreferenciar o voto parecia uma ideia dita em grego no início. Geralmente se pensa o georreferenciamento em cima de dados físicos: uma propriedade, uma jazida, uma reserva ambiental, uma cidade. Mas votos? Sim, é possível, produz um benefício enorme e com potencialidades que já estamos a descortinar.

Lembremos sempre que o voto é anônimo. O que temos são dados absolutamente públicos que mostram como foi o voto, jamais quem votou.

Note que o TSE não disponibiliza a geoinformação, apenas os metadados brutos. Trabalhamos com duas unidades geográficas, o município e a zona eleitoral. O resultado é mais democracia, é possibilitar que as cidadãs e os cidadãos possam ver quem foi mais votado na área de uma hidrelétrica, em uma praça de pedágio, onde ele mora, seja nas comunidades, seja nos bairros ricos.

Cabe um registro de que o TSE tem recebido muitas críticas, mas é possível trazer uma palavra importante a seu favor. Foi possível, com seus dados, estruturar uma série histórica básica sobre a democracia brasileira de forma gráfica. É um tipo de jornalismo que tem muito para trazer de benefícios ao país.

Esse trabalho chamou a atenção do Estadão, que montou uma página especial com a ferramenta, Geografia do Voto. Como avalia essa parceria do Geocracia com o mais respeitado jornal brasileiro?

O Estadão confere ao Geocracia uma chancela de credibilidade e de referência que dispensa maiores comentários. É louvável a sensibilidade do jornal em perceber que transformar em mapas e em geoinformação os dados do TSE, mesmo que incompletos por limitações nos dados dos próprios tribunais regionais eleitorais, era uma informação fundamental que precisava ser acessada pelo público. E seu interesse em disponibilizar a ferramenta ao público apenas renova sua vanguarda no jornalismo de dados. É uma honra fazermos parte deste processo enquanto criadores da ideia.

Convido a todas e todos a acompanharem nosso blog no Estadão, Geografia do Voto, onde faremos simulações com a plataforma mostrando informações escondidas atrás dos metadados.

O Geocracia nasceu com a preocupação de unir geoinformação e democracia. Que benefícios práticos para a cidadania traz um projeto como o Geografia do Voto?

Tradicionalmente os veículos de comunicação de geoinformação, isso em nível nacional e internacional, são focados na concepção, aplicação e uso das tecnologias, um primado de engenheiros, na maioria cartógrafos, e de operadores do sistema. Muitas vezes usam uma linguagem que se basta entre estes profissionais. Por outro lado, não adianta a tecnologia mais sofisticada, que se transformará em commodity em pouco tempo, se não for para produzir mudança na qualidade de vida da cidadã e do cidadão. O que é, para a dona Maria e o seu José, uma cidade inteligente? Uma rede inteligente? Mandar satélite para o espaço se as pessoas passam fome em Terra? Metaverso? Há que se fazer um esforço de conexão destas grandezas para além da narrativa setorial. Pessoas simples devem entender a importância da geoinformação.

As pessoas têm o direito de serem geoinformadas. Está em nossa Constituição, o Direito à Informação. O mapa é apenas um veículo de informação, aquela que se mede em latitude e longitude. Jogamos um ar jurídico em um setor eminentemente da engenharia. Guardadas as proporções é mais ou menos o mesmo método que o bacharel em Direito Milton Santos fez com a Geografia. Que ao final possamos contribuir para formar cidadãs e cidadãos mais conscientes.

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