Edmilson Volpi*
Se você já foi a Greenwich, em Londres, e resolveu tirar aquela foto típica de turista, como esta aí em cima, sobre a linha do Meridiano 0o, voltado para Norte, com um pé no hemisfério Ocidental e outro no Oriental, saiba que você esteve o tempo todo com os dois pés no Oeste. Para realmente fazer uma foto assim, você precisaria andar uns 102 metros para a direita, em meio a uma trilha mal identificada no Greenwich Park e parado perto de uma lata de lixo.
Essa foi a conclusão a que chegaram cientistas do Observatório Naval americano e da Agência Nacional de Inteligência Geoespacial dos EUA, após checarem os dados das modernas ferramentas tecnológicas de posicionamento, como o GPS, muito mais precisas que a tecnologia disponível em 1851, quando Greenwich foi estabelecido.
Anos antes, em 1884, uma votação entre 25 nações ocorrida em Washington, decidira pela demarcação de Greenwich como o ponto zero de longitude universalmente reconhecido para permitir a navegação global precisa, a padronização de mapas e o estabelecimento dos fusos horários. Portugal (meridiano de Coimbra), Espanha (meridiano de Cádiz) e França (meridiano de Paris) disputavam a primazia do marco zero, mas falou mais alto a influência da Inglaterra, maior potência da época.
Leia também:
- Por que o norte está sempre por cima nos mapas?
- Há 50 anos, Virginia Norwood nos ensinava a ‘ver’ o mundo com outros olhos
- Oito fatos curiosos sobre o Ponto Nemo
Para definir a linha exata da longitude 0o, astrônomos do Observatório de Greenwich, que funcionava desde 1676, apontaram seu telescópio para a chamada “estrela do relógio”. O que eles não sabiam é que, devido a distorções gravitacionais locais provocadas pela forma do terreno naquele ponto e pelo formato da própria Terra, o telescópio que eles usaram não estava exatamente perpendicular ao solo. E esse pequeno erro foi o responsável pela demarcação da linha 102 metros para Oeste.
“Com os avanços da tecnologia, a mudança no meridiano principal era inevitável”, diz Ken Seidelmann, astrônomo da Universidade da Virgínia e coautor do estudo, publicado no Journal of Geodesy, em 2015. “Talvez um novo marcador deva ser instalado no Greenwich Park para o novo meridiano principal”, sugere o cientista.
Mas, mesmo com essa pequena discrepância no terreno, hoje, todo o sistema de navegação global é muito mais preciso, desde que, em 1984, o sistema GPS foi implantado globalmente. Feitas do espaço por satélites, as medições não são afetadas por esses ínfimos 102 metros de má pontaria.
Leia aqui a matéria em inglês no Independent, e aqui a tradução para o português no Curiosidades Cartográficas .
*Edmilson M. Volpi é engenheiro Cartógrafo e editor da página Curiosidades Cartográficas no Facebook e Instagram