A pressão da União Europeia contra o desmatamento evidenciada na última COP-26 (desmatamento zero até 2030) pode ameaçar as exportações de pelo menos um quinto da soja brasileira, caso sejam aprovadas as regras que estão em discussão na Europa. Esse é o resultado de um estudo do professor do Departamento de Engenharia de Produção da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Raoni Rajão.
Publicado em artigo na revista científica Science, em 2020, o cálculo de Rajão usou dados de 815 mil propriedades rurais com registro no Cadastro Ambiental Rural (CAR), sistema oficial do governo, e baseia-se no volume da soja cultivada em propriedades que desmataram ilegalmente após 2008, mesmo que a área tenha sido usada pelos proprietários para outras culturas, como milho, sorgo ou carne.
Só que a União Europeia discute uma legislação ainda mais dura, proibindo qualquer importação de propriedade que tenha desmatado a partir de 2020, mesmo que esse desmatamento seja considerado legal no país de origem. Segundo o Código Florestal brasileiro, por exemplo, proprietários rurais devem conservar entre 20% e 80% de suas propriedades, conforme o bioma onde estão. Áreas restantes podem ser desmatadas legalmente, desde que se obtenha uma licença. A medida impactaria sobretudo a soja produzida na região conhecida como Matopiba, que reúne partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, onde se verifica a maior expansão do produto no país.
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Neste Domingo (28), em entrevista ao Financial Times, o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Carlos França, chamou de “protecionismo comercial” e “miopia” a proposta europeia. “Não posso aceitar que o meio ambiente seja usado sob a forma de protecionismo comercial. É ruim para os fluxos de consumo e comércio”, disse, acrescentando que o Brasil não quer esconder o problema: “Quando existe desmatamento ilegal, ele está geralmente conectado a outros crimes, como infrações trabalhistas, evasão fiscal e lavagem de dinheiro. Nós estamos tratando isso como assunto de polícia e estamos tendo resultados”.
Fontes: Correio Braziliense e O Antagonista