O anúncio pelo IBGE de que a coleta do Censo 2022 foi prorrogada do fim de outubro para o início de dezembro não foi uma surpresa para quem está acostumado a acompanhar de perto o processo censitário. O ex-presidente do IBGE Roberto Olinto, disse à Agência Geocracia não estar surpreso, mas ressalta que isso traz uma preocupação a mais para a realização da Pesquisa.
Nesta segunda-feira (3), o diretor de Pesquisas do instituto, Cimar Azeredo, disse que o grande problema é a falta de recenseadores. No momento, o Censo conta com 95.448 responsáveis pelas entrevistas nos domicílios, o que corresponde a apenas 52,2% das vagas previstas para a operação.
Isso estaria prejudicando o ritmo de aplicação dos questionários. Até segunda-feira, 104,4 milhões de habitantes tinham sido contabilizados pelo Censo 2022, para uma estimativa de 213 milhões de pessoas. O processo é bem mais lento do que o do Censo 2010, quando 154 milhões de brasileiros já haviam sido recenseados no 57º de coleta.
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No entender de Olinto, para que possamos ter um resultado do Censo com alguma qualidade o IBGE vai ter que redesenhar uma estratégia de apoio a essa coleta estendida procurando suprir os problemas conhecidos. “Sem um esforço excepcional, os riscos são muito grandes, e o adiamento por um mês já traz um risco muito grande”, alerta.
Ele lembra que quem acompanha as redes sociais já percebia comentários em posts do próprio IBGE com recenseadores reclamando do valor e de problemas com os pagamentos e das dificuldades em conseguir fazer as entrevistas nos domicílios. “Esses fatores foram responsáveis por uma crescente desistência do pessoal. Isso vem de uma série de problemas apontados por várias pessoas, como cortes no orçamento, falta de uma propaganda maciça – não apenas nas redes sociais, mas na TV – e um trabalho pesado na imprensa. Essa divulgação não foi feita”, afirma.
No anúncio, Cimar reconheceu que houve problemas pontuais com os pagamentos dos recenseadores e que eles se devem a questões operacionais e não orçamentárias, mas admite que, “provavelmente”, serão necessários mais recursos para completar a operação. O orçamento do Censo, de R$ 2,3 bilhões, já cortado em 30%, é o mesmo valor nominal previsto desde 2019, sem qualquer correção pela inflação dos últimos anos.
Outro problema apontado por Olinto é a falta de pessoal no IBGE para realizar o Censo, já que os supervisores – função fundamental para a operação – não são mais do quadro. “Há uma deficiência histórica nesse sentido, pois o IBGE está há anos sem concurso, e o cargo de supervisor exige uma certa autoridade porque, em algumas situações, ele precisa se apresentar como funcionário de órgão federal e, em extremo, usar a Lei para solicitar que o Censo seja respondido”, explica.
Segundo o IBGE, o estado com maior déficit de recenseadores é Mato Grosso, com 36,8% do número de vagas ocupadas. Já Sergipe está com 68,8% dos postos ocupados. “Estamos pensando em novas estratégias e alternativas de recrutamento, a fim de alavancar e melhorar a produtividade nos estados com menor percentual de população recenseada”, esclarece Luciano Duarte, gerente técnico do Censo.
Fonte: Agência de Notícias IBGE