Edmilson Volpi*
Em reportagem especial para o site Geografia Infinita Gonzalo Prieto trata da eterna relação, por vezes idílica, entre Arte e Cartografia, fruto de uma conversa com a doutora em História da Arte pela Universidade Complutense de Madrid, Sandra Sáenz-López.
Para Sáenx-López, que foi curadora das exposições “Marginalia in cARTography“ no Chazen Museum of Art’ de Madison (EUA) e “Cartografías de lo desconocido. Mapas en la BNE“ e concentrou a maior parte de suas pesquisas em mapas feitos da Idade Média e do início da Idade Moderna, ao longo da história, a elaboração de mapas, hoje um estudo científico, não era separada daquilo que hoje consideramos como disciplinas humanísticas, como a arte. Como ela explica, a divisão entre ciência e arte é moderna e “por trás de um cartógrafo está muitas vezes o que consideramos hoje um pintor”.
Este é o caso de Cresques Abraham, autor malorquino de cartas náuticas do século XIV, conhecido por ser o responsável pela Bíblia Frahi, a Bíblia Hebraica de maior valor artístico. Artistas como Hans Holbein, o Jovem ou Albrecht Dürer, também fizeram mapas, como os mapas do céu (abaixo, o céu do hemisfério sul).
Portanto, para Sáenz-López,“sim, a cartografia deve ser considerada parte da disciplina artística e, ainda hoje, fazer mapas, ou a maioria deles, ainda é uma arte se levarmos em conta o cuidado estético que muitos deles mantêm”.
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“Um mapa é essencialmente uma imagem, uma pintura”. Tecnicamente, você precisa das mesmas habilidades e recursos pictóricos. Ao longo da história, muitos mapas foram de responsabilidade de pintores ou artistas. E vice-versa: “os cartógrafos fizeram obras que hoje, sem nenhum problema, consideramos arte. Os mapas também devem ser incluídos na categoria de arte ou obra artística”, afirma Sáenz-López.
Idade Média, a referência
Perguntada sobre qual seria um período particularmente prolífico para a cartografia em seu lado mais artístico, ela é clara: a Idade Média. “Temos pouco da cartografia da Antiguidade, por isso é difícil julgar os mapas da época anterior”. Feita com os mesmos materiais e procedimentos ou técnicas das obras artísticas contemporâneas, principalmente pinturas, a cartografia daquele período pode ser considerada arte. “E os cartógrafos também são artistas”, explica.
Depois da Idade Média, a arte e cartografia continuaram se relacionando. Mas, com o a chegada do Renascimento, “começamos a ver uma certa especialização e colaboração entre cartógrafos – responsáveis pelos próprios mapas – e artistas – pelos motivos iconográficos”. Exemplo disso é o mapa no alto da página, integrante do Atlas Miller português. António de Holanda trabalhou em Lisboa fazendo o repertório artístico dessa obra, considerado um dos mais belos atlas portugueses, com os cartógrafos Lopo Homem e Pedro e Jorge Reinel.
Apesar de, a partir da Idade Moderna, começar a ocorrer uma separação entre o elemento artístico e o científico, ou propriamente cartográfico, Saénz-López considera que a arte continua presente nos mapas. Na sua opinião, “esse distanciamento não veio com a digitalização”.
Leia aqui o artigo original em espanhol, e aqui, a tradução no Curiosidades Cartográficas.
Edmilson M. Volpi é engenheiro cartógrafo e editor da página Curiosidades Cartográficas no Facebook e Instagram