Para o empresário Paulo Bernardo, o tema da falta da regulação de mapas pode ser comparável à luta contra as fake news. Investidor na área da Big Data, do geomarketing e da energia verde sediado no Algarve e com negócios no Brasil e eu outros países, Bernardo destaca que a dificuldade de validar notícias e mapas verdadeiros é a mesma. Em entrevista ao Geocracia, ele fala sobre a importância estratégica de uma regulamentação da cartografia, de um marketing do futuro apoiado pelas ferramentas de geolocalização e sobre privacidade e proteção de dados, em uma Europa sob a égide do RGPD.
Latitude e longitude passaram a ser monetizadas. Com esse pano de fundo, o que é o geomarketing e o que ele traz de diferenças em relação a pesquisas de opinião tradicionais?
O geomarketing hoje é algo que nos acompanha em todos os momentos, ou não estaríamos georreferenciados em qualquer horário do nosso dia, quando ligamos o Waze ou pesquisamos no Google, quando passamos o nosso passe na catraca do Metro.
Obviamente, as marcas procuram capitalizar essa informação e existem mil maneiras de cruzar esses dados, sendo até a mais simples as referências que o Waze nos dá quando estamos próximos de um restaurante ou de outro estabelecimento.
Toda a publicidade do futuro vai passar por esse caminho.
De que maneira esse tipo de ferramenta pode contribuir para a evolução das empresas e negócios e para a sociedade? Afinal, existe uma grande preocupação em relação à privacidade dos cidadãos.
A privacidade é dada em troca de informação. Nada receberíamos de informação se não descarregássemos o Google maps, o Waze ou o WhatsApp. E quem hoje quer viver sem estas novas ferramentas?
Em relação às empresas e aos negócios, vai tornar a comunicação mais objetiva e direcionada, o que, no meu ponto de vista, é bastante útil, aumenta receitas e possibilita que se criem novas empresas e empregos.
A Europa desenvolveu a Diretiva Inspire, que fornece meios para se regular mapas. Por que ter mapas oficiais confiáveis ajuda para o desenvolvimento do geomarketing?
Esta semana li uma notícia que dizia que metade dos jovens não conseguia saber a diferença entre notícias falsas e verdadeiras.
Com os mapas, a situação é a mesma. Sem uma diretiva oficial, não temos forma de validar os mapas. Pensando no continente que é o Brasil, é fundamental o georreferenciamento rápido de todo o pais, de uma forma “oficial”, pois, além de ser importante para o tema do geomarketing, é inevitável para a defesa e a gestão profissional do território.
Vocês estão inseridos na Europa, onde a RGPD estabeleceu normas rígidas para a utilização dos dados pessoais. No Brasil, essa legislação inspirou a LGPD, que segue de perto essas restrições. Isso ajuda ou atrapalha o geomarkmeting?
Um poeta português de nome António Aleixo tem um poema que diz:
“Quem prende a água que corre
É por si próprio enganado
O ribeirinho não morre
Vai correr por outro lado.”
Com o RGPD e o geomarketing também é assim. Ate hoje, não senti diferença na forma de ser contactado através do geomarketing, mesmo com a RGPD. Pois, como já referi anteriormente, só obtenho determinadas informações dando acesso à minha localização.
Onde se sentiu mais a RGPD foram em temas de privacidade, na ótica do armazenamento de dados.
Desde o Pokémon GO se fala muito em mapeamento de interiores, áreas como museus, aeroportos, shoppings etc. Quão madura está a tecnologia e quais são seus desafios para a proteção dos dados dos cidadãos?
O mapeamento de interiores é um tema que esta a andar mas não muito rápido. O 5G tarda em ser uma realidade, e não é de fácil implementação.
O tema proteção de dados, neste caso, nem se devia colocar. Para entrarmos em qualquer edifício no Brasil passamos por uma grande quantidade de videocâmeras e temos que deixar o RG na portaria. Utilizar a geolocalizacao num edifício, seja ele de habitação ou museu, é só acrescentar algo àquilo que hoje já se faz. Sendo, na minha opinião, um fator ótimo para aumentar a segurança de todos.