Luiz Ugeda*
A fragmentação da intenção de voto do eleitorado feminino é a grande novidade desta semana eleitoral, já marcada pela ampla vontade da classe política em preservar ao máximo a polarização entre Lula e Bolsonaro. A senadora Simone Tebet (PMDB/MS) até então era a única candidata mulher para as eleições presidenciais deste ano. Com a indicação da também senadora Soraya Thronicke (PSL), decorrente da desistência de Luciano Bivar, faz-se importante analisar a representatividade das candidaturas das advogadas sul-mato-grossenses.
Tivemos mulheres que lideraram o Brasil. Imperatriz Leopoldina, Princesa Isabel e Dilma Rousseff foram, até agora, as lideranças femininas no plano federal. Há mais exemplos no plano estadual, como ocorre, p. ex., com as governadoras Regina Sousa (PT/PI) e Izolda Cela (PDT/CE). São 16 ao longo da história, sendo três potiguares, estado com maior representação: a atual Fátima Bezerra (PT/RN, 2019-2022), Rosalba Ciarlini (DEM/RN, 2011-2015) e Wilma de Faria (PSB/RN, 2003-2010).
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Mas toda essa pujança política feminina potiguar não extrapolou as divisas do estado, como ocorre agora com o Mato Grosso do Sul. Com a vaga do Senado de 2022 praticamente garantida para a ministra Tereza Cristina (Progressistas/MS), as senadoras Simone e Soraya devem protagonizar uma improvável disputa presidencial. Se Simone, em final de mandato, ganhou destaque na CPI da Covid, Soraya, em meio de mandato, acaba de ser ungida por força de um pretenso acordo entre Luciano Bivar para favorecer a candidatura de Lula, uma vez que buscaria esvaziar a candidatura de Simone.
A ferramenta Geografia do Voto, parceria entre o Estadão e a agência Geocracia, indica que é procedente esta argumentação. Quando analisamos os votos dados a Simone Tebet, em 2014, e aqueles dados a Soraya Thronicke, em 2018, percebe-se rapidamente que a base eleitoral é muito parecida, incluindo as cinco maiores cidades, conforme mostra o quadro no topo desta página.
O fato de Simone ser de Três Lagoas e Soraya de Dourados, e as duas cidades terem votado em peso nas respectivas candidatas, só comprova que o eleitorado delas é muito similar. Simone, inclusive, teve na terra natal de Soraya mais que o dobro dos votos válidos para o Senado em 2014.
Simone acaba de anunciar a também senadora Mara Gabrilli (PSDB/SP) como vice em sua chapa, dobrando a aposta no eleitorado feminino e buscando aumentar a pauta com a questão dos direitos das pessoas com deficiência. Sob a ótica política, ela adota o mesmo recurso utilizado por Soraya: uma senadora em meio de mandato que aproveitará as eleições para obter maior projeção nacional, com chances reais reduzidas de obter a eleição, conforme pesquisas de intenção de votos.
Por obra de homens, virá do estado do Pantanal a divisão dos votos femininos nestas eleições. Com duas candidaturas sob espectro político próximo e de mesma base geográfica, uma divisão no voto feminino favorecerá a ida de Bolsonaro ao ainda provável segundo turno, pois, apesar de suas limitações de acesso ao público feminino, possui uma base eleitoral bastante cristalizada.
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* Luiz Ugeda é advogado e geógrafo, pós-doutor em Direito (UFMG), doutor em Geografia (UnB) e fundador do Geocracia. Semanalmente, publica artigos no Blog do Geografia do Voto, no Estadão.