A startup brasileira de engenharia espacial DeltaV acaba de vencer um edital para receber R$ 8 milhões do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia e que será coordenado pela Agência Espacial Brasileira (AEB), Ministério de Ciência e Tecnologia, e FINEP. Criada no Laboratório de Combustão e Propulsão do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) por nove engenheiros do INPE e do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), a Delta V pretende usar o investimento para construir o protótipo de um foguete de treinamento.
Pelo risco que envolve o lançamento aeroespacial, a notícia está sendo muito comemorada pelos responsáveis da DeltaV: “Esse volume equivale a uma rodada seed [rodada de investimento para startups que já têm projetos validados]. E sem diluição”, diz ao Valor Pipeline Daniel Resemini, co-fundador e CEO da startup, acrescentando que nunca houve tanto dinheiro para negócios espaciais no país, apesar de ressaltar que AEB já teve o dobro do orçamento atual. Para ele, o que mudou foi a aplicação dos recursos e a forma de fomentar inovação.
Funcionando na incubadora do Parque Tecnológico de São José dos Campos, a DeltaV faz parte do do movimento New Space, de startups espaciais e investidores privados que buscam inserir uma vertente comercial no setor espacial. Um fenômeno que só é possível graças à miniaturização eletrônica. “Satélites eram equipamentos de algumas toneladas. Hoje há aplicações interessantes de um quilo ou menos, como monitoramento de queimadas e desmatamentos ou mesmo telecomunicação”, diz Resemini, explicando que os foguetes, que antes demandavam investimentos de R$ 7 bilhões e eram bancados por governos, também se miniaturizaram: “Hoje, com R$ 700 milhões é possível desenvolver um lançador, o que começa a ficar mais atrativo para iniciativa privada”.
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O fundo brasileiro lançou outros dois novos editais, de R$ 190 milhões e de R$ 220 milhões, respectivamente para um veículo lançador de nano satélite e para o desenvolvimento de uma constelação de satélites. Em ambos a DeltaV está se unindo a outras empresas do setor para participar.
Atualmente, o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, já é uma opção para servir de ponto de partida para esses projetos. Graças ao acordo de salvaguardas tecnológicas assinado entre Brasil e Estados Unidos em 2019, empresas privadas como a americana Virgin Orbit e a canadense C6 Launch já se habilitaram, por meio de edital, a lançar veículos espaciais orbitais e suborbitais de caráter comercial a partir de Alcântara.
Se isso for viabilizado, seria a primeira vez que o país, que já lançou satélites a partir da China e da Índia, faria o mesmo do território nacional. A DeltaV, inclusive, propõe um foguete de treinamento de propulsão líquida, mais usado pelas companhias estrangeiras, embora uma novidade para a Base de Alcântara. “A base está mais acostumado com o equipamento de propulsão sólida e nós já desenvolvemos propulsão líquida em bancada”, diz o responsável da empresa, que aposta em uma estrutura modular para o controle e torre de lançamento do foguete de capacitação.
“Todo o controle do lançamento é independente do centro. Aquela sala cheia de telas a gente faz a partir de um contêiner, com um kit de produtos com potencial de exportação”, diz Resemini.
Fonte: Valor Pipeline