Os responsáveis pelo projeto MapSãoFrancisco estão encontrando dificuldades para mapear o Baixo São Francisco e, com isso, definir possíveis áreas de alagamentos, situação comum na região do mais brasileiro de todos os rios. O vazio cartográfico do trecho que fica na divisa entre os estados de Sergipe e Alagoas dificulta o planejamento de políticas públicas que poderiam ser adotadas para prevenir ou responder a esses eventos.
Nem mesmo os próprios municípios que seriam afetados pelas cheias têm os mapas que a Sociedade Canoa de Tolda e o portal InfoSãoFrancisco, criadores do projeto de mapeamento colaborativo, têm solicitado para concluir o trabalho, iniciado no ano passado pelas lagoas e várzeas da foz do rio.
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Esta semana, foi a vez de Poço Redondo (SE) frustrar os responsáveis pelo projeto. Respondendo à solicitação por mapas não encontrados no site oficial da cidade, a Prefeitura respondeu que “o município não possui cartografia atualizada”.
Situação parecida aconteceu há poucos dias, em Igreja Nova (AL). Lá, os responsáveis do MapSãoFrancisco receberam uma resposta ainda mais curiosa: “O município não contém esses dados, com isso, vossa senhoria deverá se basear por mapas dispostos na rede mundial de computadores, tal como Google Maps”, respondeu a Prefeitura por e-mail.
Em maio e junho do ano passado, Igreja Nova foi vítima de um alagamento da várzea do Boacica, um dos perímetros irrigados da Codevasf, no Baixo São Francisco. A inundação provocou graves problemas para as populações do interior do município, que ficaram isoladas, sem estradas, sem fornecimento de água potável e energia, com problemas de abastecimento e risco de epidemias.
“Sem a definição das áreas de alagamento não há como definir a população que seria, de diversas formas, afetada. É um vazio cartográfico que implica alto risco, já que as pessoas em provável situação de vulnerabilidade não seriam alvo de objetivas políticas públicas de prevenção e resposta a eventos críticos”, afirma Antônio Laranjeira, integrante do MapSãoFrancisco.
Foi justamente para resolver esse vazio cartográfico que foi criado o MapSãoFrancisco. Iniciado no ano passado, o projeto conta com a cooperação do HOT – Humanitarian OpenStreetMap Team e da UFAL – Universidade Federal de Alagoas, por meio do curso de Engenharia de Pesca (Penedo).
De acordo com Carlos Eduardo Ribeiro Jr., membro fundador da Canoa de Tolda e um dos criadores do MapSãoFrancisco, a primeira fase, de mapeamento das lagoas e várzeas, é de longo prazo e permanente, pois exigirá constante atualização. “Esse projeto de abertura é a primeira etapa do mapeamento das populações inseridas em zonas de risco da extensa área de alagamento em caso de evento extremo”, afirma, acrescentando que “o que se passa na Bahia e no vale do Parnaíba são situações que deveriam provocar grande apreensão para as populações e gestores de nossa região, que não conta com um grande plano de emergência integrado”.
Os responsáveis do MapSãoFrancisco lembram que a regularização do Velho Chico, por conta da inauguração da Barragem de Sobradinho, nos anos 80, decretou o fim das cheias cíclicas. Desde então, sem fiscalização e ações de impedimento, a planície de inundação do rio em todo o Baixo São Francisco é objeto de intensa ocupação irregular, o que favorece a formação de cenário de alto risco potencial em caso de alagamentos.
De acordo com o InfoSãoFrancisco, é desconhecida a existência de um plano de emergência integrado, preventivo e de resposta para um eventos de inundações. Além disso, não há registro de mapa específico oficial com a exata poligonal da área de inundação e de suas zonas de risco.
Fonte: InfoSãoFrancisco