Marcelo Cabral, pela Época Negócios, mostra que a indústria espacial está prestes a se tornar um dos motores mais dinâmicos da economia global, com projeção de atingir US$ 1,8 trilhão até 2035. O estudo Space: The US$ 1,8 trillion opportunity for global economic growth, elaborado pela consultoria McKinsey em parceria com o Fórum Econômico Mundial, indica que o setor crescerá 9% ao ano, muito acima da média da economia mundial. A expansão ocorre impulsionada tanto pelos segmentos espaciais tradicionais – como satélites, lançamentos de foguetes e estações orbitais – quanto pelo impacto das inovações espaciais em setores terrestres, como logística, telecomunicações e mobilidade.
Embora as possibilidades econômicas do espaço já fossem discutidas desde os anos 1980, foi apenas no início dos anos 2000 que o setor passou a se consolidar como uma potência financeira. A entrada da iniciativa privada, até então excluída desse mercado, transformou o panorama, com nomes como Elon Musk, Jeff Bezos e Richard Branson investindo em suas próprias empresas espaciais. Desde então, a chamada New Space Era mudou a forma como o espaço é explorado, reduzindo custos de operação e ampliando o acesso à tecnologia. Hoje, constelações de satélites garantem conectividade em regiões remotas, enquanto pesquisas espaciais geram avanços em áreas como energia renovável, saúde e agricultura.
A conexão entre espaço e economia terrestre é evidente no impacto gerado por tecnologias espaciais em diversas áreas. Satélites já são fundamentais para monitoramento ambiental, previsão climática e resposta a desastres naturais. A exploração espacial também impulsiona inovações na produção de alimentos, com técnicas de cultivo adaptadas à gravidade zero sendo testadas para aplicação na agricultura vertical. Na mobilidade, o crescimento do tráfego espacial tem estimulado o desenvolvimento de novas soluções logísticas, enquanto o setor de energia busca aprimorar fontes sustentáveis inspiradas no comportamento solar.
Apesar do otimismo, a indústria espacial enfrenta desafios significativos. O alto custo de desenvolvimento de foguetes e satélites ainda limita a entrada de startups e pequenos players no setor. A crescente rivalidade geopolítica entre Estados Unidos e China também gera incertezas, com o país asiático acelerando seu programa espacial estatal e estabelecendo metas ambiciosas, como levar astronautas à Lua até 2030. Além disso, a regulação do setor ainda precisa evoluir para lidar com o aumento do tráfego orbital e a ocupação comercial do espaço, evitando problemas como colisões de satélites e disputas por recursos extraterrestres.
No Brasil, o debate sobre o papel do país nessa nova corrida espacial divide opiniões. Enquanto especialistas apontam um atraso na indústria nacional, com uma cadeia produtiva fragmentada e dependente de tecnologias estrangeiras, há também uma visão otimista sobre setores em que o Brasil pode se destacar. O país já investe em satélites de pequeno porte, biotecnologia espacial e gerenciamento de atividades orbitais, além de contar com um histórico de cooperação internacional. Projetos como o estudo de células-tronco em microgravidade, conduzido por instituições brasileiras em parceria com órgãos espaciais americanos, demonstram o potencial nacional para se inserir na economia espacial global.
A revolução espacial em curso vai muito além da exploração do cosmos. A rápida incorporação de tecnologias espaciais em setores tradicionais promete transformar indústrias inteiras e redefinir a relação da humanidade com o espaço. À medida que o setor cresce e se torna mais acessível, a economia terrestre se beneficia diretamente dessa expansão, com novas oportunidades de negócios, empregos e soluções inovadoras para os desafios globais. O espaço, cada vez mais, deixa de ser apenas um campo de exploração científica para se consolidar como uma fronteira econômica essencial para o futuro.
Por Época Negócios

