No início deste mês, os paulistanos escolheram 55 vereadores para a Câmara Municipal. Embora as eleições majoritárias, como as de presidente, governador ou prefeito, atraiam mais atenção dos eleitores, as proporcionais, que elegem vereadores, deputados estaduais e federais, tendem a ficar em segundo plano. Esse padrão se repetiu neste ano: uma pesquisa do Datafolha mostrou que 59% dos eleitores da capital paulista ainda não haviam escolhido um candidato a vereador nos últimos dias do primeiro turno.
Lucas Gelape, em artigo para a Folha de S. Paulo, traçou um panorama sobre a nova composição da Câmara de São Paulo. A legislatura eleita traz algumas novidades, mas também reproduz fenômenos já conhecidos na ciência política. A base eleitoral dos vereadores é um desses aspectos, com a maioria dos eleitos concentrando votos em poucas regiões da cidade. Dentre os eleitos, 44 vereadores possuem bases eleitorais em um ou dois distritos, repetindo o padrão observado em 2020, quando esse número foi de 45. Essa estrutura territorial indica que os vereadores concentram votos em áreas específicas, e isso se reflete na prática parlamentar, na qual eles se dedicam a atender demandas locais, como a instalação de iluminação pública ou pontos de ônibus. Para muitos paulistanos, a atuação em prol de um bairro ou região é um dos fatores mais relevantes ao escolher um candidato, conforme mostra uma pesquisa da Quaest realizada no primeiro turno.
A predominância do voto geográfico em detrimento de questões ideológicas também se explica pelas desigualdades que marcam a cidade. Em áreas que enfrentam carências de serviços públicos, os eleitores priorizam candidatos que possam resolver problemas locais. Esse tipo de representação, no entanto, não se confunde com práticas clientelistas. Pesquisas indicam que essa proximidade entre vereador e eleitores resulta, muitas vezes, de um relacionamento construído ao longo de anos.
Mesmo com essa tendência, as eleições de 2024 apresentaram algumas variações na dinâmica territorial dos votos. O aumento no uso de redes sociais em campanhas permitiu a candidatos como Lucas Pavanato, do PL, e Simone Ganem, do Podemos, conquistarem votações mais dispersas. Pavanato centrou sua campanha em pautas conservadoras e ganhou destaque nas redes, especialmente entre os jovens. Ganem, defensora da causa animal, conseguiu apoio em diversos bairros, sugerindo uma possível mudança no domínio da representação territorial.
Outro ponto relevante das eleições foi a distribuição de votos por geografia e ideologia, especialmente entre candidatos da esquerda. O PSOL, por exemplo, obteve maior apoio nos distritos centrais, enquanto o PT manteve força fora do centro expandido, mas ampliou sua presença na zona oeste. O PSDB, que antes era uma força significativa na cidade, perdeu espaço, cedendo terreno ao MDB e ao PL, que agora concentram votos em diferentes regiões, enquanto o União Brasil manteve bases fora do centro.
O gênero dos candidatos também revelou uma divisão interessante. Com 20 mulheres eleitas, a nova Câmara tem uma representação feminina de 37%, um número expressivo para os padrões brasileiros. Notou-se que o voto em mulheres foi mais disperso geograficamente, com maior concentração em regiões de maior escolaridade média, como o centro e a zona oeste. Em locais de baixa escolaridade, as mulheres receberam 25% dos votos, enquanto, nas urnas com eleitores mais escolarizados, essa porcentagem chegou a 47%.
A preferência por candidatas em áreas de maior escolaridade pode refletir uma maior sensibilidade a pautas amplamente discutidas na mídia e na academia, como a representação de gênero na política. Nessas regiões, o eleitorado também parece menos dependente de serviços públicos locais, o que permite um voto mais “ideológico”. Por outro lado, nas regiões periféricas, onde o vereador tem uma presença mais constante no cotidiano, o padrão de votos tende a favorecer homens, que ainda são maioria na Câmara.
A nova composição da Câmara Municipal de São Paulo mostrou que a geografia se mostra um fator mais determinante que a ideologia na escolha dos vereadores paulistanos, o que institucionalizará as desigualdades e a realidade social da cidade.
Com informações de Folha de S. Paulo