A detecção de um novo quase-satélite da Terra, feita pelo observatório Pan-STARRS, no Havaí, e relatada pela Smithsonian Magazine, reacendeu o debate sobre a complexidade da nossa vizinhança orbital. Batizado 2025 PN7, o objeto ajuda a explicar por que ainda conhecemos tão pouco do tráfego de corpos minúsculos que circulam perto do planeta — e como essas descobertas exigem vigilância constante.
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Quase-satélites são asteroides cuja órbita ao redor do Sol fica sincronizada com a da Terra. Diferem das “mini-luas”, que são capturadas temporariamente pela gravidade terrestre: os quase-satélites permanecem próximos por longos períodos, mas não ficam presos ao planeta. À vista daqui, parecem dar voltas na Terra; na realidade, seguem trajetórias solares quase idênticas às nossas — um comportamento distinto de troianos (que viajam à frente ou atrás da Terra) e de asteroides em “ferradura”, que alternam posições relativas.
O caso do 2025 PN7 é singular. Cálculos preliminares indicam que ele está nessa configuração desde cerca de 1955 e deverá manter o estatuto por pelo menos mais 60 anos. Com cerca de 19 metros de diâmetro e magnitude visual 26 — extremamente ténue —, é provavelmente o menor e menos estável quase-satélite identificado até agora, segundo o astrónomo Carlos de la Fuente Marcos (Universidade Complutense de Madrid), coautor de um estudo em andamento. A pista inicial veio do astrónomo amador Adrien Coffinet, cuja discussão do achado em listas especializadas motivou a rápida confirmação pela comunidade científica.
A importância vai além da curiosidade. Por permanecerem perto por anos ou décadas, quase-satélites funcionam como “laboratórios naturais” para observar asteroides muito pequenos, permitindo investigar evolução orbital, propriedades físicas e composição. Essa monitorização contínua também ajuda a distinguir rochas naturais de possíveis detritos espaciais: como nota Teddy Kareta (Universidade de Villanova), movimentos subtis no curto prazo denunciam a natureza do objeto — e, no caso do 2025 PN7, tudo aponta para um corpo rochoso legítimo.
Observar não é trivial. O brilho fraco e o tamanho reduzido abrem janelas curtas de visibilidade, geralmente quando o objeto passa especialmente perto. Por isso, muitos companheiros discretos podem ter passado décadas sem ser notados — exatamente como aconteceu com o 2025 PN7. A sua confirmação eleva para sete o número de quase-satélites conhecidos da Terra e lembra que o “quintal” cósmico ainda guarda segredos. Para a ciência — e para a segurança planetária —, entendê-los é tão prudente quanto fascinante. ISSN 3086-0415, edição de Luiz Ugeda.

